quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Little Miss Sunshine - Uma Família À Beira De Um Ataque De Nervos (2006)

A Carrinha Mágica

Que delícia é este "Little Miss Sunshine"! São poucas as obras que conseguem unir tão bem a comédia inteligente com a mais aconchegante das ternuras e, nesse sentido, o filme triunfa por completo. Este road-movie atípico narra as desventuras de um clã disfuncional ou simplesmente excêntrico: o pai é um anti-losers convicto e guru da superação pessoal que tenta desesperadamente promover uma estúpida teoria dos 9 passos; o filho dedica-se à leitura compulsiva de Nietzsche e está já há alguns meses a cumprir um estranho voto de silêncio; o tio é um homossexual deprimido que falhou na sua tentativa de suicídio; o avô caracteriza-se por ser um hippie decadente e cocainómano com a língua bastante afiada; a mãe é o elemento mais equilibrado, que tenta por tudo ligar as pontas soltas entre os vários elos da família; e, finalmente, no meio de tanta peculiaridade está a benjamim Olive, uma simpática devoradora de concursos de beleza infantil que consegue mobilizar todos os adultos em direcção à famosa competição "Little Miss Sunshine", certame em que a menina faz questão de participar e que se realiza a largos quilómetros do lar. É aqui que entra a outra personagem do filme: a extravagante carrinha amarela, que é decididamente tão temperamental quanto os elementos humanos que nela se fazem transportar. É este problemático veículo que irá levar os Hoover ao seu objectivo, mesmo que tenham de passar por uma série de atribulações e algumas tragédias existenciais.

"Little Miss Sunshine" faz a apologia da importância da família, que neste caso se une em torno de um objectivo não muito estimulante, mas válido para afirmar o amor que existe entre todos (embora este sentimento se encontre algo abafado). Ao princípio, o filme pode dar a sensação de que vai manter as suas personagens apenas no patamar da caricatura, mas isto é só uma ilusão. Com o desenrolar da narrativa vai-se assistindo ao aprofundar da dimensão humana de cada um daqueles seres, sendo este um daqueles tópicos raras vezes tido em conta nas comédias. Curioso é também o facto de, durante a viagem, ser perceptível a contemplação às paisagens do interior dos EUA: apoiando-se numa fotografia de pasmar (e numa banda-sonora envolvente), o filme faz o retrato de uma América apelativa e capta um certo way of life, permitindo ainda que o espectador sinta que está dentro da carrinha com aquelas pessoas. No fundo, celebra-se a movimentação e a exploração de novos rumos como sendo condição sine qua non para o agregar de um clã à beira do colapso.

Quando o filme se começa a aproximar do fim, a acidez irrompe para parodiar o ridículo que habita nos concursos de beleza infantil. Os planos finais são de uma doçura extrema e ricos também em gargalhadas ruidosas. Porque as grandes comédias querem-se assim: capazes de nos comover enquanto estamos perdidos no riso...


Classificação: 4/5

quarta-feira, 30 de janeiro de 2008

Adrian Grenier e a Entourage




Curiosidade Cinéfila: No filme "Celebridades" (1998), de Woody Allen, Adrian Grenier fazia parte da entourage da personagem de Leonardo DiCaprio. Actualmente, ele participa na série de sucesso "Entourage", onde desempenha uma estrela em ascensão acompanhada pela sua própria trupe.

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Estreias Da Próxima 5ª Feira...




- "Into The Wild - O Lado Selvagem", de Sean Penn

- "Sweeney Todd - O Terrível Barbeiro de Fleet Street", de Tim Burton

- "Lust, Caution - Sedução, Conspiração", de Ang Lee

Definitivamente, esta é a época em que o bom cinema invade as salas nacionais.

segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Adaptation - Inadaptado (2002)

Confissões De Uma Mente Bloqueada

"Adaptation" é uma das mais geniais obras dos últimos anos! Só mesmo Charlie Kaufman para conseguir levar a bom porto uma bizarria deste género, que tem tanto de cómico como de ternurento. A inspiração para a criação deste inusitado filme partiu da real dificuldade de Kaufman em adaptar cinematograficamente o livro de Susan Orlean, "The Orchid Thief", que se baseia nas desventuras de John Laroche (um homem algo rude que nutre uma verdadeira obsessão pela busca de plantas exóticas). O que se examina em "Adaptation" é exactamente o argumentista Charlie Kaufman e as suas problemáticas em tecer uma narrativa cinematográfica baseada na obra de Orlean, ao mesmo tempo que espreitamos a investigação desta em torno do homem das plantas, que lhe permitirá escrever o seu livro.

Pelo meio, surge o irreverente e ficcionado irmão gémeo de Charlie, Donald, decidido a seguir o ofício do mano, se bem que sem grandes rasgos de originalidade. O grande senão de toda esta trama é que Charlie está a atravessar um período de bloqueio criativo, em que a escrita não lhe flui de todo. A poucos e poucos, sem consciência disso, Charlie começa a incluir-se no argumento que está a escrever, deturpando a essência original da obra e contaminando-a com as suas próprias angústias e neuroses. No outro pólo, Donald inicia um percurso de triunfo com a sua escrita banal e apressa-se então a dar uma ajudinha ao irmão em apuros.

Confusos? É normal que sim, até porque tentar explicar o filme é uma tarefa árdua e quase sempre mal-sucedida. Mas não há nada a temer: depois de se ter contacto com esta obra-prima, não é assim tão complexo perceber todas estas teias humanas. No fundo, o filme que vemos não é a adaptação do livro de Susan Orlean, mas sim a complicação de Charlie em ultrapassar a sua fase negra e como a sua vida disfuncional começa a afectar a metodologia do seu trabalho. Este insólito filme demonstra, de forma bastante acutilante, a dificuldade e as técnicas presentes no processo de criação dos diferentes objectos de arte e lança uma dura crítica à estafada fórmula "Sexo + Drogas + Violência Gratuita = Sucesso" que sempre imperou no reino cinematográfico, com maior ou menor qualidade.

O final satírico, que parece descambar e estragar tudo o que vinha sendo construído tão eficazmente, é mais inteligente do que parece e é a conclusão mais que perfeita para um filme tão alucinado quanto este (é só juntar as peças soltas e o sentido vem logo ao de cima). Os actores estão todos em topo de forma: Nicolas Cage em versão dupla exemplifica o excelente actor que é quando tem realmente uma personagem e um bom filme para defender; Chris Cooper continua um belíssimo actor de composição e Meryl Streep é a Meryl Streep, fabulosa como sempre e a personificação ideal de vulnerabilidade e sensibilidade. Depois de "Being John Malkovich", prova-se mais uma vez que a união Charlie Kaufman e Spike Jonze tem muito caminho ainda por desbravar. Uma delícia de filme...


Classificação: 5/5

quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Election - Eleições (1999)

Senhora Presidente

Antes do reconhecimento mundial que obteve com "Sideways", Alexander Payne foi o realizador desta deliciosa comédia satírica que se movimenta no universo adolescente. A acção desenrola-se num liceu norte-americano: Jim McAllister é um respeitado professor de Estudos Sociais que se dedica de corpo e alma à profissão. Ele adora a influência que tem nos seus jovens estudantes, mas existe uma aluna com quem embirra infernalmente: Tracy Flick. Tracy é alguém para quem a escola é tudo na vida, não se importando sequer com o facto de ser uma solitária nem com o moderar da sua personalidade demasiado ambiciosa. Mas ela é alguém que veste capa de santa: acontece que Tracy envolveu-se com um professor, amigo de Jim, destruindo-lhe a vida familiar e profissional e saindo ilesa de toda essa situação. Quando Tracy se candidata a presidente do Corpo Estudantil, Jim começa a arquitectar um plano para lhe sabotar a campanha eleitoral e assim vingar o amigo. O professor convence um aluno irremediavelmene bronco, mas popular, a entrar na corrida pelo cargo, de forma a destronar a posição de destaque de Tracy. O que se vai passar naquele anónimo liceu durante a época de campanha é um espectáculo de sangue, suor e lágrimas de fazer corar as presidenciais americanas. "Election" adapta o livro de Tom Perrotta (o autor de "Little Children") e examina as atribulações do quotidiano de alguns estudantes, para quem a escola funciona como um segundo lar onde podem desempenhar um papel de grande relevo. Payne carrega na acidez para caracterizar este painel, mas é lúcido ao ponto de não atirar os seus adolescentes para os simplismos sociológicos que são banalizados na televisão, nomeadamente nas populares séries juvenis. Tracy é o exemplo perfeito: é verdade que ela é irritante e cínica, mas também se reconhece que é empenhada e responsável nos projectos que leva avante. No meio, Payne ainda tem espaço para descrever o exagero em torno de algumas acções escolares, que são aqui retratadas como tarefas com uma dimensão ao nível governamental. Matthew Broderick veste bem o papel do professor implacável que não quer ver a aluna a triunfar (apesar dele próprio não ser um santo) e Reese Witherspoon rouba o filme enquanto Tracy. O resultado é uma comédia divertida, que foi abençoada pela crítica e que já na altura dava indícios do talento do seu realizador.


Classificação: 3/5

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Os Melhores Posters Dos Últimos Anos, Parte II



- "Lord Of War - Senhor da Guerra" (2005): O poster do filme de Andrew Niccol, que foca o universo do negócio de armas, apresenta a imagem de um Nicolas Cage formado por balas (basta clicar na imagem para se ver melhor);


- "The Descent - A Descida" (2005): "A Descida" é um excelente conto de terror de baixo orçamento, já possuidor do rótulo de culto. O poster evoca o inferno vivido por um grupo de amigas, durante a sua expedição a umas grutas. Elas têm de contar umas com as outras para sobreviver e a imagem que resulta dessa união é a de uma caveira;


- "Paris, Je T'Aime" (2006): Para a ode ao amor na capital francesa, que reúne diversas contribuições artísticas, a opção recaiu sobre uma magnífica imagem de um coração arrebatador, com Torres Eiffel a pulular. É um belíssimo poster que alicia ao visionamento do filme;


- "The Secretary - A Secretária" (2002): Este é o ousado filme que reúne James Spader e Maggie Gyllenhaal. Ele é um advogado que contrata uma jovem com perturbações mentais para sua secretária e juntos envolvem-se numa relação sexual pontuada pelo sado-masoquismo. O poster é simples e provocador, mas também eficaz.

The Human Stain - Culpa Humana (2003)

Viagem Ao Passado

Coleman Silk é um prestigiado professor universitário que, certo dia, comete um erro ao referir-se a dois alunos negros ausentes como sendo "spooks" (termo com uma forte conotação racista). Essa simples afirmação, proferida sem qualquer espécie de maldade, acaba por virar do avesso a vida do docente: ele perde o emprego, o respeito e a sua mulher, que acaba por falecer na sequência destas reviravoltas. Coleman apenas encontra apoio emocional no seu fiel amigo e confidente Nathan Zuckerman, até ao dia em que se cruza com Faunia, uma bela empregada de limpeza com um percurso pessoal marcado pela tragédia. Entre este par tão improvável estabelece-se uma estranha relação amorosa, onde a importância do sexo está muito vincada, mas onde estranhamente os laços emocionais parecem não se querer enlear, para que nenhum deles saia magoado nem tenha que dar mais do que aquilo que é capaz. Contudo, esta ligação socialmente "proibida", que se vai mantendo nestes termos desequilibrados, não se revela um mar de rosas, já que o violento ex-marido de Faunia se insinua e começa a perturbar o casal. Entretanto, no decorrer da trama, vamos sendo apresentados a flashbacks referentes ao passado de Coleman Silk e, mais especificamente, a um segredo muito bem guardado que o acompanhou toda a vida (segredo esse que corrompeu definitivamente os seus laços familiares e que poderia ter evitado as complicações do presente).

The Human Stain tem por base a obra desse grande autor que é Philip Roth e foi realizado pelo veterano Robert Benton (o responsável pelo já clássico Kramer Vs. Kramer, com Dustin Hoffman e Meryl Streep). O filme aborda o peso da culpa, da intolerância e dos fantasmas do passado que atormentam a existência do par central. A narrativa é perpassada por uma abordagem clínico-confessional, que adensa a intimidade das personagens e que se torna fundamental para a exploração das mesmas. Estamos perante um drama de grande fôlego, que dá ares de alguma austeridade formal e temática e que se reveste de uma maturidade invejável. Enquanto marca passo na arte do storytelling, o filme tem ainda o mérito de ser psicologicamente denso ao mesmo tempo que deixa transparecer um certo tom de suavidade. O espantoso é esta capacidade, esta facilidade com que demonstra uma personalidade muito low-profile nos seus propósitos, sem deixar, no entanto, de nos atingir no âmago com toda a sua veracidade dramática.

Quanto ao casting, sinceramente, nunca compreendi o porquê de tanta celeuma: é certo que as opções poderiam ter recaído noutros actores (e quem viu o filme sabe do que estou a falar), mas seria injusto menosprezar o talento dos envolvidos. Anthony Hopkins e Nicole Kidman são bastante convincentes na abordagem aos seus papéis e sente-se uma ligação nesta dupla, sendo este um dos pontos-chave para que toda a dinâmica do filme resulte. É certo que The Human Stain exige um elevado grau de suspension of disbelief por parte do público, mas essa exigência está actualmente presente em tantas obras que não se torna uma medida assim tão difícil de adoptar. O que importa é que sejamos envolvidos no espírito daquela história e na trajectória daqueles indivíduos; esse é o objectivo fulcral. Finalmente, as sentidas interpretações do elenco secundário são também elas dignas de registo: Wenthworth Miller, Gary Sinise e Ed Harris complementam o esforço interpretativo do par principal com grande dignidade. A recuperar.


Classificação: 4/5

terça-feira, 22 de janeiro de 2008

RIP Heath Ledger (1979-2008)


Poucos dias depois da morte de Brad Renfro, eis que surge outra péssima notícia: Heath Ledger, de 28 anos, foi encontrado morto na tarde de 3ª feira, numa residência em Manhattan. Junto do corpo do actor encontravam-se comprimidos para dormir. Heath deixa uma filha de 2 anos, Matilda, fruto da sua relação com a também actriz Michelle Williams (o casal conheceu-se no set de "O Segredo de Brokeback Mountain", mas actualmente encontrava-se separado).

Heath Ledger começou a conhecer o sucesso com o filme adolescente "10 Coisas Que Odeio Em Ti". Seguiram-se títulos como "Coração de Cavaleiro", "O Patriota", "Monster's Ball - Depois Do Ódio" e "As Quatro Penas Brancas". A partir do gigantesco triunfo artístico e comercial do filme de Ang Lee, que fez com que a sua magnífica composição fosse nomeada ao Oscar, Heath começou a fincar ainda mais o seu grandioso talento. Surgiu assim no independente "Candy", participou no biopic sobre Bob Dylan "I'm Not There" e estava a causar burburinho pelo seu The Joker na última empreitada da saga Batman, "The Dark Night".

Nada fazia prever um desfecho tão traumático quanto este para um talento que ainda tinha muito que brilhar! Tal como aconteceu no início dos anos 90 com a perda de River Phoenix, quero acreditar que algumas celebridades irão agora rever os seus comportamentos excessivos e auto-destrutivos...

Atonement - Expiação (2007)

Amor em Tempo de Guerra

"Atonement" é um belo melodrama que recupera os modelos românticos do período clássico de Hollywood, mas que ao mesmo tempo investe numa originalidade formal muito própria da actualidade. E este cruzamento de correntes constitui, logo à partida, um factor decisivo para o sucesso do filme.

A história inicia-se em 1935, na Inglaterra, numa tarde escaldante: Briony Tallis, uma miúda de 13 anos com um talento extraordinário para a escrita e com uma imaginação mais que fértil, vê a sua irmã mais velha, Cecilia, a mergulhar na fonte do jardim acompanhada pelo filho dos caseiros, Robbie. Cecilia e Robbie conhecem-se há alguns anos, mas só agora tomam noção do quão atraídos se sentem um pelo outro, apesar de quase não o quererem reconhecer. Contudo, a mente de Briony acaba por intervir e deturpa totalmente aquela imagem do jovem casal junto à fonte. Esse mau julgamento irá desaguar numa noite trágica: durante um elegante jantar de família, Robbie é acusado de um crime muito grave e acaba por ser preso. A partir daqui, as vidas de Cecilia, Robbie e Briony serão para sempre afectadas pelos acontecimentos daquele dia nefasto e os sentimentos de culpa e injustiça irão predominar nas suas existências.

A narrativa em "Atonement" prima por uma não-linearidade e pela inclusão de várias perspectivas sobre os mesmos acontecimentos (e este último facto é fundamental para a evolução da história e das personagens). Como cereja no topo do bolo, até temos direito a twist final e tudo (que se finca na memória com uma eficácia de se lhe tirar o chapéu). Embora o cerne da história seja o romance atribulado entre Robbie e Cecilia, é Briony quem assume um papel de destaque. É ela o agente despoletador dos acontecimentos que presenciamos e é através dos seus olhos que a trama se constrói (e se desconstrói também).

Apetece dizer que "Atonement" é daqueles filmes que nem parecem deste tempo, tal é a estranheza que causa. No entanto, é competente ao conquistar os espectadores pelo seu tom de tragédia de grande escala, combinado com um romantismo inflamado (diria até mesmo arrebatador e desesperado), com uma alta carga erótica e com o poder redentor da arte enquanto pano de fundo melancólico. Joe Wright, o realizador, faz uma clara homenagem ao classicismo romântico, sem nunca descair numa mera função tarefeira de transposição dos códigos do género. Ele conhece os meandros por onde se move e reconhece perfeitamente a importância da substância e da sensibilidade num filme desta natureza, pelo que o seu ofício nunca se coloca no patamar do simples copista aplicado.

O filme apresenta grandes valores de produção, uma criatividade ao nível da mise en scène que é inegável e uma banda-sonora insinuante que marca presença de uma forma obsessiva. Para além disso, o jovem elenco dá provas de ter entrado no espírito do projecto: James McAvoy é um excelente actor em ascensão e Keira Knightley, actriz sobre a qual depositava algumas dúvidas há já alum tempo, comprova de uma vez por todas o seu imenso talento e versatilidade. Vencedor do Globo de Ouro para Melhor Filme - Drama e nomeado para 7 Oscar.


Classificação: 4/5

sábado, 19 de janeiro de 2008

Thelma & Louise (1991)

Dias De Liberdade

Thelma e Louise são grandes amigas que decidem partir ao encontro de um fim-de-semana de descanso e puro deleite, fugindo assim por pouco tempo aos seus quotidianos deprimentes. A rápida paragem num bar vai-se revelar um inferno: entre copos e algumas danças, Thelma cai nos braços de um playboy que a tenta violar no parque de estacionamento do bar. Mas Louise intervém e, num acesso de fúria, dispara mortalmente sobre o homem. Em choque, Thelma e Louise metem-se à estrada e tentam planear o seu destino, ao mesmo tempo que começam a ser perseguidas pelas forças policiais. "Thelma & Louise" é um fabuloso road-movie no feminino, com duas personagens complexas e cativantes (e todos sabemos o quão raro é um filme com dois papéis femininos fortes e representados por alguém com mais de 30 anos). O filme de Ridley Scott entra nas teias da alma feminina e o que resulta é um processo eminentemente catártico. O que está aqui em jogo é a busca da verdadeira identidade, o quebrar das amarras e um olhar sobre a solidez (e importância) de uma grande amizade. "Thelma & Louise" tem fé na perseverança e na maturidade e, acima de tudo, é um elogio às escolhas que fazemos para as nossas próprias vidas. A par disso, é um curioso passeio pelo interior da América, perscrutando os seus patrimónios e as suas gentes, e esse vislumbre consegue ser tão contemplativo quanto angustiante. O filme é algo traiçoeiro, na medida em que inicialmente aparenta ser apenas um road-movie com pitadas de humor, mas após o incidente no bar percebemos que as voltas estão-nos a ser trocadas e que cedo vamos entrar num drama emocionalmente estimulante e compensador. Aquele final assombroso é o exemplo disto mesmo: é um expoente memóravel e devastador. Geena Davis e Susan Sarandon (duas das actrizes que mais prezo), são fenomenais na materialização do desejo de quebrar as suas fronteiras individuais e de alcançar o cheiro da liberdade. A química entre elas resulta em pleno e esse é um factor decisivo para o sucesso do próprio filme. Ridley Scott (o realizador de "Blade Runner" e "Alien") tem em "Thelma & Louise" um dos seus trabalhos mais equilibrados, que aos poucos está a cultivar a aura de clássico. Para mim já atingiu esse estatuto.


Classificação: 5/5

quinta-feira, 17 de janeiro de 2008

Críticas À Pressão...

Classificação: 3/5


Classificação: 2,5/ 5


Classificação: 3/5

terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Sin City - A Cidade Do Pecado (2005)

O Pecado Mora Aqui

"Sin City" é uma das maiores catástrofres do cinema recente! Não vou cair nesse lugar-comum de que obras como esta são "responsáveis pela morte do cinema", até porque me parece que uma afirmação deste género é de um completo absurdo e típica de quem não tem a sétima arte em grande conta. Contudo, reconheço que o filme de Robert Rodriguez tem poucos pontos fortes a seu favor. Destaco dois, desde já: o seu incrível visual noir, que é extremamente sexy e hiper-estilizado, enchendo o olho do espectador e, de tempos a tempos, sendo atacado por lampejos de cor; o outro grande trunfo é o elenco, que mesmo não tendo recursos dramáticos à sua disposição, bem tenta incutir algum "sal" às suas personagens (pena é que o filme não tenha este esforço em consideração). "Sin City" resulta da adaptação da banda desenhada de Frank Miller (que colaborou na produção do projecto) e centra-se em vinhetas de crime e violência extrema numa cidade de todos os pecados, onde os heróis e os criminosos se cruzam e onde o lado negro do ser humano parece prevalecer. É estranho (e também curioso) que um filme onde acontece tanta coisa consiga ser ao mesmo tempo redundante e enfadonho. "Sin City" esgota-se logo ao início no seu próprio simplismo narrativo e apenas pode contar com o estilo para levar a sua avante; aborrece de morte pelo facto de não ter qualquer "sumo" dramático (leia-se substância) que agarre a nossa atenção, resumindo-se apenas ao esquematismo de um conjunto de cenas de acção bem engendradas, mas desprovidas de alma. Não é como em "Kill Bill", em que incorporávamos a fúria interior da personagem de Uma Thurman e quase que rezávamos para que ela conseguisse sair ilesa da sua jornada de vingança. Aqui não há nenhuma personagem que cative e somos quase que abandonados à nossa própria sorte. O filme mais parece preocupado em funcionar como uma private joke para todos os envolvidos do que em contar uma história com pés e cabeças para o público. A obra de Robert Rodriguez resulta num filme inconsequente e sobrevalorizado, que apenas poderá ser visto como um projecto de vaidade ou como um sofrível exercício de estilo.


Classificação: 1/5

domingo, 13 de janeiro de 2008

Vanilla Sky (2000)

A Ciência Dos Sonhos

Vanilla Sky é o remake americano do curioso filme espanhol de 1997 Abre Los Ojos, realizado por Alejandro Aménabar. Cameron Crowe foi o responsável pela adaptação em 2000 e, em abono da verdade, o empreendimento trouxe resultados bastante satisfatórios.

Vanilla Sky conta a história de David Aames, um poderoso director de um grupo editorial, que leva uma vida repleta de luxos. A perfeição parece estar presente na existência de David, mas falta algo para completar o quadro: o amor. A solução para essa lacuna reside em Sofia, uma radiosa mulher que o jovem conhece numa festa. A relação começa-se a edificar, mas o problema é que uma ameaça chamada Julie interrompe o jogo amoroso. Julie é a tresloucada amante de David que se encontra com o ego ferido e disposta a dar uma valente lição ao homem que ama. David e Julie sofrem um terrível acidente de viação por culpa dela; ele fica gravemente desfigurado e a rapariga acaba por morrer. A partir desse acontecimento, o empresário entra num trilho indefinível, que balança entre a realidade e a ilusão...

Este é um daqueles projectos que não permite consenso. Na minha opinião, é um objecto subvalorizado ao qual o tempo encarregar-se-á de fazer justiça. Cameron Crowe arriscou bastante ao tomar as rédeas de um projecto complexo e, sinceramente, o realizador gere bem a difícil tarefa de equilibrar diferentes géneros (durante um par de horas passamos pelo drama, suspense, thriller, ficção científica, entre outros). Resultado: por muito estranho que seja este melting pot cinematográfico, ele funciona. O filme conquista pela sua tristeza intrínseca e é muito pertinente na forma como ilustra a importância dos diversos produtos da cultura popular na nossa vida, produtos esses que se inscrevem no nosso ser e que inconscientemente vão influenciando a nossa personalidade.

A espaços, "Vanilla Sky" faz-nos crer que estamos num pesadelo contaminado por uma espécie de pop fever, recheada de simbologia e significância. É largamente conhecida a importância da música na obra de Cameron Crowe: o realizador tem um passado ligado ao panorama musical e, como apaixonado que é, faz sempre questão de incluir momentos dessa natureza nos seus filmes, criando cenas míticas. Mas aqui esse facto é levado quase ao extremo, na medida em que, a determinadas alturas, é a própria música que irrompe e faz avançar a narrativa, acentuando ainda mais o espírito de alucinação e surrealismo.

A selecção musical é, de facto, cuidada e o elenco prima pela competência: Tom Cruise vai muito bem no papel principal e Cameron Diaz, embora aparecendo pouco, cria uma enigmática personagem que consegue ofuscar totalmente a Sofia de Penélope Cruz, que não foi a melhor escolha para interesse romântico. Um projecto fedúncio para uns e uma proposta sem medo de arriscar para outros... Coloco-me no segundo "campo".


Classificação: 4/5

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Sugestões!



- "House Of Sand And Fog - Uma Casa Na Bruma": Este filme já foi largamente citado neste blog e é hoje exibido na TVI, quando rondar as 00h10. Uma casa será o cerne do conflito entre uma jovem e um chefe de família iraniano. Ela perdeu a habitação devido a um erro burocrático; ele apenas quer reconstruir a sua vida num país radicalmente diferente da sua pátria. O confronto irá desencadear um trilho de consequências devastadoras, onde ninguém sairá ileso. Muito bom! Com Ben Kingsley e Jennifer Connelly;

- "Caché - Nada A Esconder": Nunca vi este filme de Michael Haneke, mas a premissa é bastante sugestiva: um casal começa a receber vídeos que contêm imagens do seu próprio quotidiano. A identidade do remetente permanece desconhecida e a polícia nada pode fazer, uma vez que não existe uma ameaça concreta. Este filme passa na Sessão Dupla de Sábado, na RTP2, perto das 22h40. Com Daniel Auteuil e Juliette Binoche;

- "Breaking The Waves - Ondas De Paixão": Esta obra-prima do cinema contemporâneo (e um dos grandes filmes da minha vida, se me permitem) é também exibida na RTP2, no Sábado. Já foi aqui mencionado (ver Retratos De Fé) e é um perturbador drama sobre a união entre o amor e a fé. Para ver logo a seguir a "Nada A Esconder". Com Emily Watson e Stellan Skarsgärd;

- "In America - Na América": O belíssimo filme de 2003, assinado por Jim Sheridan, foi estranhamente marginalizado aquando da sua estreia no nosso país. É uma história ternurenta sobre um casal irlandês (e as suas duas filhas gémeas) que tenta começar uma nova existência em Nova Iorque. A luta para enfrentar essa realidade e libertar os fantasmas do passado vai ser dolorosa. "In America" é um filme que abarca a esperança no sonho americano, a felicidade e a redenção. É também um quadro emocional sobre as pessoas que tentam encontrar o seu verdadeiro lugar no Mundo. Roda na RTP1, este Domingo, às 22h30. Com Samantha Morton e Paddy Considine.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2008

TOP Alien

1) Aliens - O Reencontro Final (1986)


2) Alien - O Oitavo Passageiro (1979)


3) Alien 3 - A Desforra (1992)


4) Alien 4: O Regresso (1997)

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Noite Escura (2004)

A Noite Da Tragédia

João Canijo é um dos melhores realizadores nacionais e também um verdadeiro autor que prossegue a sua caminhada na representação das diversas realidades portuguesas e dos rostos que as habitam."Noite Escura", baseado na tragédia "Ifigénia Em Áulis" (de Eurípedes), é mais um passo em frente nesse sentido e firma-se como uma das melhores obras do actual cinema luso. Numa zona rural, encontramos um bar de alterne com um ambiente tétrico, que será o centro das atenções numa única noite. O estabelecimento é explorado por uma família onde as relações se caracterizam por ser bastante intrincadas. Tudo parece estar sereno, mas as aparências atraiçoam: para saldar uma divída à máfia de Leste, o pai vê-se obrigado a entregar a filha mais nova (que tem pretensões numa carreira artística). Apenas a mãe e a filha mais velha parecem reagir a esta terrível situação, tentando evitar a todo o custo o destino da benjamim da família. "Noite Escura" é quase labiríntico na execução dos planos e no entrecruzar das relações afectivas que presenciamos. É inquietantemente onírico, mesmo que retratando uma paisagem social e humana perfeitamente identificáveis na realidade nacional. João Canijo consegue aqui uma subtil aproximação ao género noir e o rigor da mise en scène vem ainda completar todo o quadro. O elenco mantém o patamar de qualidade: Beatriz Batarda é comovente no papel da sofrida Carla, a filha mais velha do casal e Rita Blanco comprova porque é uma das melhores actrizes portuguesas. Quanto a Fernando Luís, actor que sempre achei algo limitado e preso a maneirismos na cena televisiva, revela-se um prodígio de sobriedade no papel de chefe do clã. "Noite Escura" resulta ainda como um excelente exercício de estilo, com uma aura de filme alternativo. Destaca-se de outras produções nacionais no que diz respeito à caracterização das personagens, ao renegar dos falsos moralismos e das artificialidades. Brilhante!


Classificação: 4,5/5

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Retratos De Amizade...



- "Midnight Cowboy - O Cowboy Da Meia- Noite" (1969): Um cowboy texano extremamente ingénuo chega a Nova Iorque decidido a ganhar a vida como prostituto. Mas a jornada não é assim tão fácil e o cowboy acaba por se apoiar num marginal adoentado chamado Ratso. Juntos erram por aquela imensa metrópole, descobrindo a verdadeira amizade que os une. Uma peróla da contra-cultura que fez história ao ganhar o Óscar de Melhor Filme em 1969 (continua a ser o único filme com a classificação X a receber tal galardão). Com Dustin Hoffman e Jon Voight;

- "Stand By Me - Conta Comigo" (1986): Um verdadeiro hino à adolescência e à amizade, que celebra a perda da inocência e o poder da nostalgia. Quatro jovens amigos tomam conhecimento do local onde se encontra o cadáver de um adolescente que havia desaparecido e decidem então lançar-se em busca do dito corpo, missão essa que lhes irá deixar marcas para sempre. Com River Phoenix e Kiefer Sutherland;

- "Driving Miss Daisy - Miss Daisy" (1989): Este deve ser dos mais tocantes exemplos da grandeza de uma amizade. Nos anos 50, Miss Daisy (uma senhora de idade avançada) já não consegue conduzir. Ela tem uma personalidade muito forte, mas mesmo assim o filho convence-a a contratar um motorista. Ao ínicio ela resiste à ideia, mas aos poucos a personalidade afável do chauffeur afro-americano vai conquistando Miss Daisy. Esta relação irá superar os seus obstáculos e perdurar durante várias décadas, culminando numa enorme cumplicidade. Com Jessica Tandy e Morgan Freeman.

domingo, 6 de janeiro de 2008

Stanley Kubrick e as Casas de Banho...

Nos filmes de Stanley Kubrick, as casas de banho ganham sempre relevância. Ficam aqui alguns exemplos de cenas que ocorrem nesse espaço:




"Eyes Wide Shut", "Full Metal Jacket", "The Shining" e "A Clockwork Orange".

sábado, 5 de janeiro de 2008

Charlie Wilson's War - Jogos De Poder (2007)

Malha De Influências

"Charlie Wilson's War" relata uma história mirabolante, baseada em factos verídicos: nos anos 80, Charlie Wilson (um congressista texano algo decadente) une-se a uma socialite absolutamente anti-comunista, que o influencia a angariar fundos para armar os guerrilheiros afegãos. Objectivo? Impedir a invasão das tropas russas naquele país. Entretanto, alia-se à dupla um experiente agente da CIA, com alargados conhecimentos. Juntas, estas três personalidades irão mover-se entre as mais altas patentes e serão responsáveis por uma das mais secretas investidas militares de que há memória, tentando proteger ao máximo o bom nome dos EUA. O filme, realizado pelo veterano Mike Nichols, tem um ritmo que prende a atenção do espectador e mescla, com perspicácia, a comédia sarcástica com alguma melancolia. É uma sátira política bastante carismática que, com inteligência, permite diferentes leituras: quem for a favor da política externa norte-americana, verá Charlie Wilson como um homem comum e patriótico que atingiu grandes feitos, mas que não recebeu suficientes apoios para continuar a sua nobre missão; quem estiver do lado oposto, poderá olhar para Charlie como um manipulador nato, uma personalidade tacanha e hipócrita que agiu a favor dos interesses do seu próprio país, que conseguiu mobilizar um povo para uma meta específica, tudo para depois deixá-lo de fora da estratégia política da terra do Tio Sam. "Charlie Wilson's War" observa este painel com um olhar cómico, mas no final percebemos que o que atravessa realmente o filme é a tristeza e a desilusão, sentimentos que não são estranhos à cena política. Outro dos grandes trunfos do filme é o seu fabuloso elenco, que veste as suas personagens com grande atitude: Tom Hanks, Julia Roberts e Phillip Seymour Hoffman são simplesmente excelentes na composição dos três astutos "conspiradores" e a química entre eles funciona às mil maravilhas. Quanto à realização, podemos contar com a elegância do costume. O pior mesmo é o título português, que corrompe o sarcasmo do original. Uma bela surpresa que gera o diálogo e que marca, desde já, este 2008!


Classificação: 4/5

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Sugestões...



- Hoje, no canal FOX, perto das 21h30, é exibido "La Haine - O Ódio", um filme de Mathieu Kassovitz que já tive oportunidade de referir neste blog. Filmado a preto e branco, "O Ódio" retrata um dia de conflito e raiva por parte de 3 amigos que mantêm uma relação atribulada com a força policial. O encontro inesperado de uma arma vai atiçar ainda mais as mentalidades;

- No Sábado, na RTP2, a noite é de "Mulholland Drive", de David Lynch. A obra-prima onírica de 2001 descreve as paixões, os desejos e sobretudo as "quedas" que ocorrem nessa terra dos sonhos (e ilusões) que é Hollywood. Um portento visual e narrativo para ver a partir das 00h30;

- No Domingo, na RTP1, roda "Jurassic Park - Parque Jurássico", de Steven Spielberg. Sabe sempre bem rever esta montanha-russa de aventura e efeitos-especiais, que pasmou o Mundo nos idos de 93. Começa às 16h00.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2008

TOP 10 Filmes de 2007

1) "Little Children - Pecados Íntimos", de Todd Field


2)"INLAND EMPIRE", de David Lynch


3) "The Brave One - A Estranha Em Mim", de Neil Jordan


4) "Redacted - Censurado", de Brian De Palma


5) "Lady Chatterley", de Pascale Ferran


6) "Zodiac", de David Fincher


7) "Away From Her - Longe Dela", de Sarah Polley*


8) "Mysterious Skin - Pele Misteriosa", de Gregg Araki


9) "Bug", de William Friedkin


10) "Half Nelson - Encurralados", de Ryan Fleck


* Lançado Directamente em DVD