segunda-feira, 14 de abril de 2008

My Blueberry Nights - O Sabor do Amor (2006)

O Amor é um Lugar Estranho

Wong Kar-Wai, esse magnífico cineasta de origem chinesa que nos presenteou com pérolas inolvidáveis como Chungking Express e In The Mood For Love, espalhou-se ao comprido com o seu primeiro trabalho falado em inglês e rodado totalmente nos EUA. Se pensarmos bem, chega a ser desolador que isto tenha acontecido, quando na verdade a comunidade cinéfila torcia pela qualidade do filme e Kar-Wai parecia contar com todos os elementos (técnicos e humanos) para criar algo memorável. Mas não, aqui a aposta saiu furada, para mal dos nossos pecados.

Estamos perante um conto urbano-onírico de travo anímico sobre uma jovem mulher que, após um desgosto amoroso, se lança pela estrada fora, em busca de algumas respostas para as encruzilhadas da vida. Nessa travessia que se revela física, psicológica e afectivamente fulcral, a rapariga cruza-se com uma panóplia de personagens excêntricas que, involuntariamente, lhe fornecem algumas pequenas lições que a ajudarão a saciar as suas hesitações emocionais.

My Blueberry Nights conta com o primeiro trabalho de Norah Jones nos domínios da representação, e em abono da verdade a cantora não se sai nada mal. Mas também é certo que ela não tem muito para fazer. Como o filme possui um traço de terapia confessional, Jones vê a sua relevância a diminuir conforme vai interagindo com as outras personagens. O cast é sublime (Natalie Portman, Jude Law, Rachel Weisz e David Strathairn), mas inacreditavelmente nenhum deles faz um brilharete como é costume. Isto prende-se com o facto do argumento e das diversas resoluções dramáticas apresentarem uma grave falha ao nível da vibração emocional. O filme quer ser tão aprumadinho que se torna, afinal, em algo insosso e rebuscado. Depois, determinados diálogos também não ajudam à festa, uma vez que caem numa redundância tal que chegam a parecer oriundos de uma muito duvidosa filosofia de pacotilha.

A ideia que transparece é a de um portfolio de vinhetas prosaicas e pouco empolgantes em que Kar-Wai encerra um curioso paradoxo: ao querer copiar o melhor de si próprio, das suas marcas autorais, o realizador acaba por reflectir o seu pior. Mais parecendo uma curta-metragem esticada até ao limite, My Blueberry Nights quase descamba em terrenos fedúncios, tal a falta de carnalidade e de conclusões interessantes. Até a questão da própria viagem (que deveria ser um dos zénites do filme) é algo pífia, porque nunca se sente o peso dessa jornada nem a real importância que ela tem para a protagonista.

A estética arty de Kar-Wai está lá a marcar presença (valha-nos isso), com todo o cromatismo e jogo de luzes que lhe reconhecemos, mas isso não é suficiente para remediar um filme que soa demasiado a ingénuo. E que subaproveita os belos actores que tem sob a sua alçada. Definitivamente, as tartes de mirtilo devem saber bem melhor.


Classificação: 1/5

13 comentários:

Loot disse...

Ainda não vou ler porque quero ver o filme, mas 1 em 5 é muito mau e eu que tenho tanta expectativa em relação a esta obra.

Red Dust disse...

Também ainda não vi. É assim tão horrível? :)

Nia disse...

já somos 3... ;)

Maria del Sol disse...

Eu infelizmente não o vou poder ir ver ao Indie, por isso li a tua sinopse, mas confesso que não esperava uma avaliação tão negativa do filme. Ainda assim, estou curiosa para tirar as teimas deste filme que prometia tanto.

Anônimo disse...

Voce acabou de me salvar 2 horas de vida.

Gonçalo Trindade disse...

Ui... só uma estrela :s? Enfim... tenho de o ver, já que sou um admirador do Wong Kar-Wai... mas já não és o primeiro que vejo a falar assim tão mal do filme...

Anônimo disse...

xiiii... bem, como a vida está cara, acho que passo este...

Gooffy007 disse...

É isto que é amaravilha da arte, eu adorei, a suavidade inocente da voz da Jones reforça a ingenuidade do filme a sedução deslumbrante da presença de Portman contrapõe erotismo e deslumbramento.

Enfim, na minha modesta opinião, um grande filme.

Perdoa-me a publicidade, mas apenas como contraponto á tua opinião.
My Blueberry Nights

calminha disse...

nao acompanhei este filme mas aprendi aqui ja algumas coisas.
uma boa semana

Luís A. disse...

a auto-referencia por vezes pode tambem se chamar de masturbação artística...lol

Anônimo disse...

Não me surpreende, semprei achei que os filmes dele eram mais fogo de vista do que outra coisa. Ainda assim tenciono vê-lo.

José Quintela Soares disse...

É caso para dizer que no melhor pano cai a nódoa.

Cataclismo Cerebral disse...

Queria muito ter gostado do filme, até estava com as expectativas um pouco empoladas. Mas a desilusão foi tremenda, não esperava um projecto tão medíocre...

Abraços