
Todd Haynes parece caminhar cada vez mais no sentido de se tornar um expert no capturar da essência de diversas eras. Em Veneno e Seguro, o realizador remetia-nos para os diversos problemas que assolam a sociedade contemporânea; em Longe do Paraíso, encenou um passeio elegante e triste aos melodramas de recorte clássico (típicos dos anos 50), fazendo a devida vénia ao intemporal Douglas Sirk; na sua mais recente obra, I'm Not There, Haynes propõe a revisitação da mitologia desse enigma criativo que é Bob Dylan. Como não podia deixar de ser, Velvet Goldmine também não foge a esta "regra" cinematográfica, em que o experimentalismo parece estar sempre presente.
O filme de 1998 transporta-nos para os atribulados anos 70, em que a cultura do Glam Rock vivia os seus dias de expressão máxima. O excesso era a palavra dominante e Brian Slade um dos ícones musicais que incorporava esse espírito kitsch. Com uma ascensão meteórica e a fama a seus pés, Slade vê a sua jornada terminar repentinamente com um atentado durante um espectáculo. Uma década depois, um jornalista é destacado para averiguar o que realmente aconteceu à estrela de outrora... Velvet Goldmine é um interessantíssimo exercício de nostalgia que evoca uma era de todas as possibilidades, de todas as afirmações individuais e sociais. Cruzando o registo de reportagem-ficcionada com o formato de videoclip pop-rock, Haynes conta uma história desencantada e algo feérica sobre as ambiguidades do desejo, que absorve literalmente o modus operandi dos filmes da década de 70 (o foco nas expressões faciais, que era uma verdadeira obsessão nas obras dessa época, está lá todo). O realizador explora o cáustico processo da fama, as teias da provocação enquanto ferramentas de modificação da ordem social e ainda a melancolia da memória/percepção.
Com todos estes recursos disponíveis por desbravar, sobra ainda tempo para trazer à superfície a estrutura de Citizen Kane e relembrar a mitologia de lendas vivas como David Bowie e Iggy Pop. O resultado prima pela excelência, e os actores não fogem a esse padrão. Especialmente Toni Collette, que tem uma interpretação avassaladora: a actriz é arrepiante na materialização cristalina de uma mulher traída pelos valores flutuantes de uma época que abraçou sem hesitações. Um "teatro musical" muito provocador, excêntrico, mas também de grande qualidade.
Classificação: 4,5/5
7 comentários:
bolas...este é daqueles filmes q ainda n vi mas q sei q tou a perder escandalosamente!!
*miss you!! prepara-t p assinares uma fita de cetim vermelho um dia destes! :D*
É um dos meus filmes de culto, excelente mesmo.
Gosto também das várias referências a Oscar Wilde.
Abraço
Sem dúvida uma grande pedida para quem de rock dos anos 70 e seus ícones.
Todd Haynes é um diretor diferenciado, que gosta de temas polêmicos.
Abraço.
Este é um filme que ando há imenso tempo a tentar alugar mas que tem sido dificílimo de encontrar. Fiquei com ainda mais vontade de o ver depois de ter gostado tanto do "I'm not there".
Beijinhos!
Curse: Acho que vais gostar deste filme. Tem um tom que creio que aprecias. Terei muito prazer em assinar a tua fita, já sabes disso :) Bjocas!
Loot: São referências muito bem introduzidas, de facto. É um filme de culto, isso é certo.
Hugo: O nome do meio de Haynes deve ser provocador. Ele não faz a coisa por pouco :S
Maria: Só o vi graças à edição do Y, de resto nunca o encontrei à venda nas grandes superfícies. Se gostas da filmografia de Haynes, vais desfrutar deste Velvet Goldmine. E como amas música, acho que esta é a tua praia :) Bjocas!
Abraços para os restantes
100% de acordo, belo filme
É mesmo, uma excelente obra retro.
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