terça-feira, 8 de abril de 2008

Velvet Goldmine (1998)

Quem Tramou Brian Slade?

Todd Haynes parece caminhar cada vez mais no sentido de se tornar um expert no capturar da essência de diversas eras. Em Veneno e Seguro, o realizador remetia-nos para os diversos problemas que assolam a sociedade contemporânea; em Longe do Paraíso, encenou um passeio elegante e triste aos melodramas de recorte clássico (típicos dos anos 50), fazendo a devida vénia ao intemporal Douglas Sirk; na sua mais recente obra, I'm Not There, Haynes propõe a revisitação da mitologia desse enigma criativo que é Bob Dylan. Como não podia deixar de ser, Velvet Goldmine também não foge a esta "regra" cinematográfica, em que o experimentalismo parece estar sempre presente.

O filme de 1998 transporta-nos para os atribulados anos 70, em que a cultura do Glam Rock vivia os seus dias de expressão máxima. O excesso era a palavra dominante e Brian Slade um dos ícones musicais que incorporava esse espírito kitsch. Com uma ascensão meteórica e a fama a seus pés, Slade vê a sua jornada terminar repentinamente com um atentado durante um espectáculo. Uma década depois, um jornalista é destacado para averiguar o que realmente aconteceu à estrela de outrora... Velvet Goldmine é um interessantíssimo exercício de nostalgia que evoca uma era de todas as possibilidades, de todas as afirmações individuais e sociais. Cruzando o registo de reportagem-ficcionada com o formato de videoclip pop-rock, Haynes conta uma história desencantada e algo feérica sobre as ambiguidades do desejo, que absorve literalmente o modus operandi dos filmes da década de 70 (o foco nas expressões faciais, que era uma verdadeira obsessão nas obras dessa época, está lá todo). O realizador explora o cáustico processo da fama, as teias da provocação enquanto ferramentas de modificação da ordem social e ainda a melancolia da memória/percepção.

Com todos estes recursos disponíveis por desbravar, sobra ainda tempo para trazer à superfície a estrutura de Citizen Kane e relembrar a mitologia de lendas vivas como David Bowie e Iggy Pop. O resultado prima pela excelência, e os actores não fogem a esse padrão. Especialmente Toni Collette, que tem uma interpretação avassaladora: a actriz é arrepiante na materialização cristalina de uma mulher traída pelos valores flutuantes de uma época que abraçou sem hesitações. Um "teatro musical" muito provocador, excêntrico, mas também de grande qualidade.


Classificação: 4,5/5

7 comentários:

Anônimo disse...

bolas...este é daqueles filmes q ainda n vi mas q sei q tou a perder escandalosamente!!



*miss you!! prepara-t p assinares uma fita de cetim vermelho um dia destes! :D*

Loot disse...

É um dos meus filmes de culto, excelente mesmo.
Gosto também das várias referências a Oscar Wilde.

Abraço

Hugo disse...

Sem dúvida uma grande pedida para quem de rock dos anos 70 e seus ícones.
Todd Haynes é um diretor diferenciado, que gosta de temas polêmicos.

Abraço.

Maria del Sol disse...

Este é um filme que ando há imenso tempo a tentar alugar mas que tem sido dificílimo de encontrar. Fiquei com ainda mais vontade de o ver depois de ter gostado tanto do "I'm not there".

Beijinhos!

Cataclismo Cerebral disse...

Curse: Acho que vais gostar deste filme. Tem um tom que creio que aprecias. Terei muito prazer em assinar a tua fita, já sabes disso :) Bjocas!

Loot: São referências muito bem introduzidas, de facto. É um filme de culto, isso é certo.

Hugo: O nome do meio de Haynes deve ser provocador. Ele não faz a coisa por pouco :S

Maria: Só o vi graças à edição do Y, de resto nunca o encontrei à venda nas grandes superfícies. Se gostas da filmografia de Haynes, vais desfrutar deste Velvet Goldmine. E como amas música, acho que esta é a tua praia :) Bjocas!

Abraços para os restantes

Pedro Pereira 77 disse...

100% de acordo, belo filme

Cataclismo Cerebral disse...

É mesmo, uma excelente obra retro.