
Sean Penn tem uma curta carreira como realizador, mas alcançou agora a excelência! Se este "Into The Wild" não for o filme do ano, vai de certeza andar lá perto. Penn adapta a história verídica de Christopher McCandless, um jovem de 22 anos recém-licenciado e com um futuro promissor que abandona a sua confortável posição social e se lança numa árdua odisseia em direcção à região inóspita do Alasca. McCandless é um adolescente que vive amargurado com a fantochada encenada pelo núcleo familiar e apenas a fuga desse panorama destrutivo parece ser a solução para acalmar a dor, levando a que o rapaz sinta necessidade de entrar em contacto com a sua verdadeira natureza. Desprovido de grandes bens materiais, Christopher assume uma nova identidade (Alexander Supertramp) e atira-se para a estrada, seguindo o seu caminho pelas vias mais selvagens e recônditas e cruzando-se com diversas pessoas que irão ficar afectadas pela sua personalidade peculiar. Durante esse processo penoso, ele testa a sua perseverança e os limites da sobrevivência humana em condições extremas.
"Into The Wild" é uma ode à sede de demanda existencial, em que a convulsão interior de um jovem está sempre em mutação. O que está em causa é a busca da verdadeira identidade de um indivíduo, a procura da espiritualidade própria de quem põe em causa o establishment e organiza a sua vida em função dos objectivos que pretende atingir, sejam eles socialmente bem vistos ou não. Christopher é alguém que se aliena de todas as coordenadas (geográficas, psicológicas, emocionais,...) e que vê numa trajectória solitária a condição fundamental para se auto-descobrir e testar. Lado a lado com "Into The Wild" encontram-se as memórias do livro de Jack Kerouac ("Pela Estrada Fora") e do filme de David Lynch, "Uma História Simples": acontece que todas estas narrativas apresentam protagonistas que conseguem conviver bem com a solidão e que encetam viagens de grande escala com um objectivo específico, que acabam por se traduzir numa evolução interior e num processo de purificação. Ainda: as três histórias denunciam que tão importante quanto o destino a que se quer chegar é a necessidade de estar sempre em movimento.
Sean Penn realiza um filme naturalmente longo, que nos faz sentir na pele o peso daquela jornada, mas que no entanto nunca se torna enfadonho. As paisagens selvagens, que constituem a tarefa difícil da realização, são captadas de uma forma muito bonita e percebe-se que Penn quis transmitir a imagem de alguma serenidade. Por fim, umas breves referências: no plano dos actores, especial destaque para Emile Hirsch no papel principal, que se revela um intérprete de grande profundidade, com capacidade para ir aos pináculos da representação e criar uma personagem com uma dimensão quase mitológica; de referir ainda que o filme não esquece a riqueza dos actores secundários, sendo que neste sentido o foco vai para a interpretação de Hal Holbrook, que é sem dúvida das melhores que já vi nos últimos anos, um prodígio de naturalismo e sensibilidade; a banda-sonora, da responsabilidade de Eddie Vedder, é um marco fabuloso neste campo, retratando com eficácia os estados de alma de Christopher; e o final, que é para lá de angustiante, resulta num conjunto de planos de rara beleza. Um filme sublime a todos os níveis.
Classificação: 5/5
11 comentários:
sean penn irá pelo mesmo caminho de eastwood? um bela crítica que me despertou a curiosidade, pois os temas que o filme parece abordar interessam-me bastante.
abraço cinéfilo
Sean Penn depois de se ter revelado um excelente actor, (quem se lembra dele em "Bad Boys"?), assumiu por detrás da câmara o estatuto de autor.
Abraço cinéfilo
5/5? bem bom. parece que não posso perder mesmo.
Ainda não vi, mas é dos tais que não vou deixar passar a oportunidade, até porque o teu comentário aguça o apetite.
Um abraço
Vi-o ontem e é um belo filme, Emile Hirsch fois em dúvida uma boa descoberta apenas o conhecia de "The Girl Next Door", este jovem vai longe. Queria era já há algum tempo ver o "Lords of Dogtown" com ele.
Estou a ouvir a banda sonora (Into The Wild) neste preciso momento, vale a pena ;)
Oxalá os meus tostões estiquem o suficiente para o conseguir ver antes de sair dos cinemas. :)
Luís: Os temas são muito apelativos e estão bem desenvolvidos. Sean Penn está excelente na pele de realizador e o filme resulta numa experiência memorável, devastadora. Não o perca!
Rui Luís Lima: Sem dúvida, o seu talento não se cinge só à representação...
Ema: É um filme poderoso, que nos convida a embarcar na aventura.
Blueminerva: Obrigado ;) Este aconselho sem reservas!
Loot: Também só o conhecia desse filme. Filme e banda sonora são geniais...
Maria: Não me digas nada Maria, que eu tenho feito um esforço sobrenatural no que diz respeito ao dinheiro :S Mas este vale tanto a pena, vai por mim. É um filme de um classicismo fabuloso.
Abraços e beijos!
O melhor do ano até agora!!
Sem dúvida!
Um abraço!
Wow, que crítica espectacular. É verdadeiramente uma obra sublime, com um conjunto portentoso momentos luminosos.
É curioso referires o On the Road do Kerouac, porque o comprei ontem. Há muito que o queria ler de facto.
Abraço
P.R.: Estamos na mesma onda então ;) Já estava com fezada de que o filme fosse bom, mas não pensei que fosse tão fenomenal.
Carlos: Obrigado. Encheu-me a alma, este filme. Adorei o Pela Estrada Fora e aposto que também te vais deliciar...
Abraços!
Faltou into the wild e tambem Hounddog , o filme da dakota fanning que gerou a maior polemica , na minha opinião um filme muito bom .
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