terça-feira, 22 de janeiro de 2008

Atonement - Expiação (2007)

Amor em Tempo de Guerra

"Atonement" é um belo melodrama que recupera os modelos românticos do período clássico de Hollywood, mas que ao mesmo tempo investe numa originalidade formal muito própria da actualidade. E este cruzamento de correntes constitui, logo à partida, um factor decisivo para o sucesso do filme.

A história inicia-se em 1935, na Inglaterra, numa tarde escaldante: Briony Tallis, uma miúda de 13 anos com um talento extraordinário para a escrita e com uma imaginação mais que fértil, vê a sua irmã mais velha, Cecilia, a mergulhar na fonte do jardim acompanhada pelo filho dos caseiros, Robbie. Cecilia e Robbie conhecem-se há alguns anos, mas só agora tomam noção do quão atraídos se sentem um pelo outro, apesar de quase não o quererem reconhecer. Contudo, a mente de Briony acaba por intervir e deturpa totalmente aquela imagem do jovem casal junto à fonte. Esse mau julgamento irá desaguar numa noite trágica: durante um elegante jantar de família, Robbie é acusado de um crime muito grave e acaba por ser preso. A partir daqui, as vidas de Cecilia, Robbie e Briony serão para sempre afectadas pelos acontecimentos daquele dia nefasto e os sentimentos de culpa e injustiça irão predominar nas suas existências.

A narrativa em "Atonement" prima por uma não-linearidade e pela inclusão de várias perspectivas sobre os mesmos acontecimentos (e este último facto é fundamental para a evolução da história e das personagens). Como cereja no topo do bolo, até temos direito a twist final e tudo (que se finca na memória com uma eficácia de se lhe tirar o chapéu). Embora o cerne da história seja o romance atribulado entre Robbie e Cecilia, é Briony quem assume um papel de destaque. É ela o agente despoletador dos acontecimentos que presenciamos e é através dos seus olhos que a trama se constrói (e se desconstrói também).

Apetece dizer que "Atonement" é daqueles filmes que nem parecem deste tempo, tal é a estranheza que causa. No entanto, é competente ao conquistar os espectadores pelo seu tom de tragédia de grande escala, combinado com um romantismo inflamado (diria até mesmo arrebatador e desesperado), com uma alta carga erótica e com o poder redentor da arte enquanto pano de fundo melancólico. Joe Wright, o realizador, faz uma clara homenagem ao classicismo romântico, sem nunca descair numa mera função tarefeira de transposição dos códigos do género. Ele conhece os meandros por onde se move e reconhece perfeitamente a importância da substância e da sensibilidade num filme desta natureza, pelo que o seu ofício nunca se coloca no patamar do simples copista aplicado.

O filme apresenta grandes valores de produção, uma criatividade ao nível da mise en scène que é inegável e uma banda-sonora insinuante que marca presença de uma forma obsessiva. Para além disso, o jovem elenco dá provas de ter entrado no espírito do projecto: James McAvoy é um excelente actor em ascensão e Keira Knightley, actriz sobre a qual depositava algumas dúvidas há já alum tempo, comprova de uma vez por todas o seu imenso talento e versatilidade. Vencedor do Globo de Ouro para Melhor Filme - Drama e nomeado para 7 Oscar.


Classificação: 4/5

7 comentários:

Maria del Sol disse...

Confesso que a Keira Knightley é uma actriz que me deixa "de pé trás".
Nem que seja pela nomeação para os Óscares, este não me pode escapar, embora receie que isso venha a acontecer, tal é a quantidade de filmes que quero ver no cinema: esta semana é "The Darjeeling Limited" e na próxima "Sweeney Todd".

Beijinhos!

Pedro Pereira 77 disse...

Grande filme. Para mim, Atonement é o melhor do ano. Justícimas as nomeações para os óscares, aliás a meu ver ainda faltaram algumas, a de Joe Wright (realizador) e Knightley para actriz... 5 estrelas.

Parabéns pelo teu blog.

http://www.fightclub77.blogspot.com/

Nia disse...

Tenho vontade de o ir ver (e por isso evito ler sobre ele). Quando vir já "te" leio ;)

Blueminerva disse...

É absolutamente fantástico. A tal inclusão de várias perspectivas sobre os mesmos acontecimentos, e os vários flashs do passado são essenciais na construção de uma narrativa muito bem conseguida. A fotografia é belíssima e a banda sonora é de tirar o fôlego. Destaque ainda para as boas interpretações. James McAvoy e Keira Knightley funcionam muito bem, Saoirse Ronan hipnotiza, e Vanessa Redgrave deixou-me com um nó na garganta e, confesso... uma lágrima no canto do olho.
Um abraço

sonhadora disse...

Gostei muito da maneira como são apresentadas as várias perspectivas, e o som do bater das teclas da maquina de escrever ao longo da história! Para mim é um 3/5 ... falta qualquer coisa neste filme...achei-o incompleto...

Cataclismo Cerebral disse...

Maria: Compreendo perfeitamente esse "pé atrás". Referi no texto que também tinha dúvidas quanto ao talento dela, mas ultimamente a minha opinião tem vindo a modificar. A Keira tem mesmo capacidades... Esta altura do ano é particularmente apetitosa: é a época dos filmes de grande qualidade, aqueles que marcam presença nos prémios da Academia :)

Halloween77: Foi um filme que me surpreendeu bastante, não estava à espera que fosse tão bom e original. Obrigado pelo elogio ;)

Nia: Arrisca ir vê-lo, estou em crer que te vai agradar.

Blueminerva: A Vanessa Redgrave "fecha" o filme de uma forma magistral! É comovente aquele retrato da Briony...

Sonhadora: São opiniões ;) Obrigado por teres partilhado a tua :)

Bjos!

rita disse...

e eu que não gostei muito do trailer que por aí anda a passar, depois deste teu post até o vou ver.
assim que chegar aos cinemas de s. miguel... ai é tão bom este desfasamento em relação ao resto do país....