segunda-feira, 25 de junho de 2007

Façam o favor de matar as moscas!

Este fim de semana vi o The Proposition (2005), de John Hillcoat. É impressão minha ou desde o Imperdoável (1992) não havia um western tão compensador? Este género nem sempre tem tido grande sorte: existem tentativas bem sucedidas (o filme de Clint Eastwood, já citado), tentativas medianas (Rápida e Mortal (1995), de Sam Raimi) e as realmente falhadas ( Mulheres de Armas (1994), de Jonathan Kaplan). A premissa do filme é simples e cut to the chase: numa região inóspita australiana, Charlie Burns recebe uma proposta de um agente policial (Capitão Stanley), que consiste em que Charlie capture o seu sádico irmão mais velho num prazo de 9 dias. Caso isso não aconteça, o Capitão vinga-se no irmão mais novo do clã. Estamos perante uma excelente reminiscência do universo de Sam Peckinpah, em que o western e todas as suas componentes morais e selvagens andam de mãos dadas. O que fascina é que a abordagem deste The Proposition nunca é maniqueísta e o filme ganha com isso, pois provoca uma ambiguidade de sentimentos no espectador relativamente às acções e destinos daquelas personagens. As questões morais são-nos assim apresentadas como um dilema de difícil resolução e aceitação. Acaba por ser também, por outro lado, uma obra contemplativa das paisagens áridas/aborígenes do Outback, impregnada de um lirismo desconcertante (e raro neste tipo de filmes) e com uma dose de temperamento irascível. Na verdade, aqui os momentos de quietude aglutinam-se com momentos da mais pura violência e gore, dando ao filme alguns apontamentos quase cartoonescos. A música assume uma dimensão transcendente, completando a narrativa e descrevendo estados de alma. No entanto, e apesar de todo o caos vivenciado, existe também uma aura de paz e luminosidade na personagem feminina (Martha, a esposa do Capitão), dorida mulher cujas circunstâncias a obrigam a co-existir num mundo endiabrado de homens sem limites. O argumento é inspirado (obra de Nick Cave), a realização é segura e virtuosa (vénia a John Hillcoat) e o elenco é impressionante: Guy Pearce (Memento, LA Confidential), Danny Huston (eterno secundário de Hollywood), John Hurt (Alien) e a sensível Emily Watson ( Breaking The Waves). Recomenda-se!!!

Classificação: 4/5


5 comentários:

Francisco Mendes disse...

É um Western pujante e poético. Nick Cave escreve divinamente!

Abraço!

Betty Coltrane disse...

Haha!!!! Viste? viste?!!!!! Nós avisámos! "isto é tãooo nick Cave"! ;P

É fenomenal, absolutamente. Não me canso de o ver... A dupla Cave/Hillcoat já vem de trás (é ele o realizador de muitos dos clips dos Seeds, para além de mais um filme com o cave). E de facto, este filme, este modo de contar a história só podia ter saído da cabeça do meu/nosso querido Nick. Tens de ler "And the ass saw the angel", vais adorar! =))

(e agora, só porque sou muito mázinha: feliz aniversário!!! hehe! ;P)

Anônimo disse...

eu sabia que ias gostar. é soberbo...tudo, as interpretações, o texto, a fotografia, tudo! a banda sonora, por deus, aquela banda sonora........a maneira arrebatadora como começa... é um dos meus all time favourites, e eu tb n sou mt fã de westerns. mas este é tão poético, tão mais que poeira e tiros... muito sangue mas na dose certa!

tb ja vi o «uma historia simples» q me emprestaste :) tenho d ver se posto tb qq coisa sobre ele mas ando tão desinspirada.

Cataclismo Cerebral disse...

Francisco: Completamente de acordo ;)

Betty: Fico com expectativa para os próximos projectos do Hillcoat.Tens de me emprestar o livro! Sim, és mesmo mázinha :P

Curse: Tens razão, o filme vai mesmo mais além do que aquilo a que estamos habituados neste tipo de filmes. Espero que tenhas gostado do "Uma História Simples" :)

Abraço e beijinhos

JHB disse...

Ora aí está um género que não estou minimamente à vontade, o meu pai é que podia dizer qualquer coisa sobre isto, acho que os westerns perfazem 95% dos filmes que vê. Eu estou a 0.