
Para mal dos seus pecados, M. Night Shyamalan ficou para sempre preso numa redoma alicerçada pelo público, que se arrepiou no final dos anos 90 com o excelente The Sixth Sense e que ficou completamente embasbacado com o já célebre twist final. Desde então, o seu percurso tem-se pautado por obras de grande qualidade, que reflectem sobre temas universais e que contemplam uma visão singular e desencantada sobre as características da actual nação americana.
No entanto, esses títulos não conseguiram repetir a espectacular adesão obtida pela obra de 1999. É a triste sina deste grande cineasta: embora o seu currículo esteja repleto de obras cada vez mais fabulosas, a verdade é que parece que o seu trabalho só será tido em conta se apresentar uma reviravolta que deixe meio-mundo de boca aberta. Efeitos colaterais (e esmagadoramente perversos): a forma profunda e inteligente como Shyamalan mergulha nos seus temas, as simbologias ávidas de descodificação e o rigor magnetizante da sua realização são injustamente marginalizados.
The Happening orquestra o conceito de paranóia generalizada que se instaurou no seios dos EUA no pós- 11 de Setembro. The Village já tinha abordado este tema na perfeição, se bem que de uma forma mais subtil. Nesse caso, tratava-se de uma alegoria assombrosa sobre o medo colectivo, a alienação auto-imposta, o amor incondicional e um clima de ameaça permanente. Neste novo filme, Shyamalan pega na temática ambiental (que cada vez mais é um assunto na ordem do dia) e encena uma parábola algo desconcertante sobre a revolta e consequente vingança da Natureza contra o Homem, após os actos prejudiciais cometidos pelas mãos deste. No limite, The Happening reinventa a velha moral que diz que degradar o meio ambiente é o equivalente a destruir progressivamente a nossa própria existência.
Este thriller ecológico nutre-se do espectro de Hitchcock para recriar o modelo de terror inexplicável que o mestre tão bem soube gerir no majestoso The Birds. Shyamalan ainda nos sabe arrepiar como poucos, mesmo que esteja a trabalhar com parcos recursos. O poder de sugestão deste filme é a sua mais-valia: tudo é relevante, até o mais pequeno pormenor; certos planos destilam uma aura maquiavélica que incomoda; o vento, as nuvens, as plantas e os sons colocam os nervos do espectador em sentido. Este encontra-se sempre em busca de uma justificação racional para a ameaça devastadora que se vai alastrando. O modo de realização, que se aproxima do espírito clássico, intensifica o medo e o envolvimento com a história, só que infelizmente o filme nunca chega a deslumbrar.
A premissa é bastante sugestiva, mas com o desenrolar da narrativa percebe-se que Shyamalan está a operar sobre material dramático muito escasso, restando-lhe apenas ceder a alguns truques visuais para impressionar. Ou seja, as mensagens que se pretendem veicular são interessantes, mas o resultado final não é apelativo o suficiente para se implantar na nossa memória. Sente-se sobretudo a falta das ressonâncias morais, religiosas e românticas que imperaram nas suas obras anteriores e que nos acompanharam muito depois do visionamento desses filmes.
The Happening deixa um certo desencanto no ar, uma sensação de vazio, apesar de ser um entretenimento razoável. A frustração inflama-se quando se chega à conclusão que alguns momentos nesta fita são decalcados de outros títulos marcantes da filmografia do cineasta indiano. Este factor 'colagem' não só é decepcionante como parece indiciar que Shyamalan se alienou de alguma da sua garra criativa. Algumas cenas desnecessárias (para não ter de dizer ridículas) também não ajudam à festa.
A escolha do par protagonista é sofrível: tanto Mark Wahlberg como Zooey Deschanel constituem erros de casting. Para além de serem actores dramaticamente limitados, a química entre ambos nunca funciona como seria de esperar. Por seu lado, a banda-sonora atmosférica e arrepiante triunfa por completo, fazendo-nos recordar a arte de bem manipular as emoções. Enfim, resta esperar que o realizador regresse ao seu pulso natural. É que The Happening está mesmo a anos-luz da qualidade dos seus trabalhos. E não espelha totalmente o enorme talento que reside neste génio do cinema contemporâneo.
The Happening orquestra o conceito de paranóia generalizada que se instaurou no seios dos EUA no pós- 11 de Setembro. The Village já tinha abordado este tema na perfeição, se bem que de uma forma mais subtil. Nesse caso, tratava-se de uma alegoria assombrosa sobre o medo colectivo, a alienação auto-imposta, o amor incondicional e um clima de ameaça permanente. Neste novo filme, Shyamalan pega na temática ambiental (que cada vez mais é um assunto na ordem do dia) e encena uma parábola algo desconcertante sobre a revolta e consequente vingança da Natureza contra o Homem, após os actos prejudiciais cometidos pelas mãos deste. No limite, The Happening reinventa a velha moral que diz que degradar o meio ambiente é o equivalente a destruir progressivamente a nossa própria existência.
Este thriller ecológico nutre-se do espectro de Hitchcock para recriar o modelo de terror inexplicável que o mestre tão bem soube gerir no majestoso The Birds. Shyamalan ainda nos sabe arrepiar como poucos, mesmo que esteja a trabalhar com parcos recursos. O poder de sugestão deste filme é a sua mais-valia: tudo é relevante, até o mais pequeno pormenor; certos planos destilam uma aura maquiavélica que incomoda; o vento, as nuvens, as plantas e os sons colocam os nervos do espectador em sentido. Este encontra-se sempre em busca de uma justificação racional para a ameaça devastadora que se vai alastrando. O modo de realização, que se aproxima do espírito clássico, intensifica o medo e o envolvimento com a história, só que infelizmente o filme nunca chega a deslumbrar.
A premissa é bastante sugestiva, mas com o desenrolar da narrativa percebe-se que Shyamalan está a operar sobre material dramático muito escasso, restando-lhe apenas ceder a alguns truques visuais para impressionar. Ou seja, as mensagens que se pretendem veicular são interessantes, mas o resultado final não é apelativo o suficiente para se implantar na nossa memória. Sente-se sobretudo a falta das ressonâncias morais, religiosas e românticas que imperaram nas suas obras anteriores e que nos acompanharam muito depois do visionamento desses filmes.
The Happening deixa um certo desencanto no ar, uma sensação de vazio, apesar de ser um entretenimento razoável. A frustração inflama-se quando se chega à conclusão que alguns momentos nesta fita são decalcados de outros títulos marcantes da filmografia do cineasta indiano. Este factor 'colagem' não só é decepcionante como parece indiciar que Shyamalan se alienou de alguma da sua garra criativa. Algumas cenas desnecessárias (para não ter de dizer ridículas) também não ajudam à festa.
A escolha do par protagonista é sofrível: tanto Mark Wahlberg como Zooey Deschanel constituem erros de casting. Para além de serem actores dramaticamente limitados, a química entre ambos nunca funciona como seria de esperar. Por seu lado, a banda-sonora atmosférica e arrepiante triunfa por completo, fazendo-nos recordar a arte de bem manipular as emoções. Enfim, resta esperar que o realizador regresse ao seu pulso natural. É que The Happening está mesmo a anos-luz da qualidade dos seus trabalhos. E não espelha totalmente o enorme talento que reside neste génio do cinema contemporâneo.
Classificação: 2/5
14 comentários:
Eu queria muito assistir esse filme, mas pelo visto é mais um dos filmes mal sucedidos do Shyamalan. Uma pena!
Finalmente consegui vê-lo e concordo que não é o melhor dele, mas está longe de ser o pior. Gostei, embora não tenha ido muito confiante dadas as reacções díspares, não fiquei desiludido mas é verdade que não deslumbra tanto como poderia. Tem de facto menos recursos que os anteriores mas essa proximidade assumida à série-b acaba por jogar a seu favor.
Fica bem
ooooh... ainda assim quero mt ir ver!
Apesar das críticas ruins pretendo assistir em breve, apesar dos altos e baixos, Shyamalan pelo menos é um cineasta original.
Abraço
Felizmente que eu não sou influenciável no que respeita as críticas. Só ainda não o vi porque não está nos cinemas da cidade onde moro. Terei de ir até Coimbra para o ver. Mas espero um bom filme, pois Shyamalan já me habituou ao melhor. E toda a gente tem o direito de falhar, como no caso de Lady In the Water. Mas todos os outros são de uma qualidade superior.
TOP Shyamalan:
1º The Village
2º Signs
3º Sixth Sense
4º Unbreakable
Todos estes filmes são de nota minima de 4/5.
Pois, apesar de já termos "discutido" isto insisto na ideia que não é um mau filme. Acho que a desilusão dos fãs supera a capacidade de isenção. No entanto, a verdade é que Mark Wahlberg é mesmo bastante mau. Penso que Zooey Deschanel não está assim tão mal. É uma prestação razoável.
Abraço
Eu gostei bastante!!
concordo que a linha narrativa é fraquinha, mas isso não me incomoda muito... hehe
dar-lhe-ia uma pontuação mais alta, mas isso sou eu
uma beijoca, lindo!
Isabela: Não é horrível, mas desilude...
Gonn1000: Tem coisas boas, mas no final deixou-me uma sensação de vazio. Parece que Shyamalan não teve muito para dizer. O tom de série b foi uma boa opção, de facto.
Curse: Força e depois quero saber o que achaste ;)
Hugo: É original e muito inteligente. Sempre o respeitei e continuo a respeitar.´
Blog da Pipoca: Concordo com o TOP. As críticas não são para ser seguidas religiosamente; são apenas a expressão de alguém. Nada como nós para avaliar as coisas...
Fifeco: A Zooey é muito bonita, mas acho que vai memso mal neste filme. O Wahlberg só vem provar aquilo que sempre achei dele: que é um autêntico canastrão...
Betty: Queria ter gostado mais, confesso. Vou esperar pelo próximo filme dele! Bjocas linda ;)
Jhb: Shyamalan sabe 'espremer' bem o 'sumo' de cada imagem, mas infelizmente The Happening não conduz a um resultado particularmente estimulante. Tem boas coisas lá dentro, mas também tem muitas fragilidades que que lhe quebram o interesse...
Bjs e abraços
ele poderia ter feito tanto tanto com o filme e não o fez. fraquinho fraquinho. falta deintensidade entre o casal. continuo ar espeita-lo porque a vila até hoje me toca.
*
Vi todos os filmes de M. Night Shyamalan e a minha preferência é "The Village". Ainda não vi esta última película mas não vou deixar passar.
Um abraço
M. e Blueminerva: A Vila continua a ser a obra-prima de Shyamalan. The Happening, mesmo não sendo horrível, desilude bastante... Mas aconselho sempre o visionamento; neste caso até mais porque a maioria das reacções tem sido positiva.
Abraços
Eu gostei muito do filme e concordo totalmente com os teus primeiros parágrafos.
Curiosamente o Sexto sentido não é dos meus favoritos dele, prefiro o Unbreakble. Claro que o factod e me terem contado o final do filme pode ter ajudado.
TALVEZ SPOILER
Também acho que muitos estão sempre à espera do seu famoso twist final e saem decepcionados se não o tiver, é uma pena porque um filme não tem de ter sempre um twist e the happening não tem, aliás no início do filme na cena da aula quando eles focam a situação das abelhas e de que às vezes não conseguimos explicar os fenómenos da Natureza, era claro que isto ia ter importância, era óbvio que estava ligado, mas não é por isso que ol filme deixa de ser bom, gostei muito e as cenas de suícidio e toda a atmosfera aterrorizante estão magníficas.
Abraço
Loot: O Unbreakable é o filme dele que menos gosto. Nunca me hei-de esquecer da surpresa que foi aquela reviravolta no final do Sexto Sentido; fui ao cinema sem saber de antemão a grande revelação do filme e tinha 15, 16 anos. Marcou-me, sem dúvida. Mas concordo absolutamente com a tua questão relativamente aos twists: os filmes de Shyamalan não têm obrigatoriamente de ter todos um twist nem um filme se pode reduzir a uma reviravolta mais ou menos espectacular. Há coisas bem melhores a ter em conta nesse todo.
As cenas iniciais de The Happening são assombrosas e inquietantes pelo facto de não compreendermos a situação na sua totalidade. É este modelo de terror inexplicável que falo e que é das melhores coisas que o filme tem para oferecer. Pena é que o argumento não acompanhe esta qualidade durante todo o tempo...
Abraço
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