sábado, 9 de junho de 2007

Choking Man / Asfixia

Ontem, lá fui com a minha amiga Betty Coltrane a uma sessão de cinema, integrada na 23ª Edição do Festróia. Primeiro, tivemos oportunidade de assistir a uma bela curta metragem sobre o envelhecimento (a necessidade vital de manter a independência e o self respect, mesmo que, na verdade, o estado de saúde não ajude muito) e alguma solidão auto- imposta, tema este que também viria a assombrar a longa-metragem que foi exibida logo de seguida. Estou a falar de "Choking Man" (2006), realizado por Steve Barron (que assinou, entre outros, o filme "Electric Dreams” e alguns videoclips de David Bowie). Trata-se de uma doce mas também claustrofóbica fábula urbana, que retrata o lado menos luminoso de uma imensa metrópole. Somos automaticamente convidados a assistir ao quotidiano de um decadente Diner, onde trabalham emigrantes de várias nacionalidades. No fim de contas, naquele estabelecimento tão característico, traça-se um paralelo com a própria realidade americana: um verdadeiro melting pot, em que nem sempre as relações são das mais pacíficas. Entre alguns dos empregados, encontramos o hiper tímido Jorge, um equatoriano que leva uma existência solitária e aflitiva. Ele bem se esforça para expressar o seu amor pela colega Amy (uma simpática chinesa), mas fica quase tudo pelas intenções, já que a sua solidão e inexperiência nas relações sociais pesam muito. Os empregados são retratados como almas à deriva, mas sem nunca perderem a esperança e o optimismo. De facto, os toques de fábula nesta obra de contornos tão vincadamente reais ajudam a suportar o filme, caso contrário (e como o próprio título indica) seria absolutamente asfixiante e depressivo, levando-nos a pensar que não haveria qualquer tipo de redenção para aquelas pessoas. No final, uma réstia de esperança: Jorge lá consegue exorcizar o seu perturbante demónio interior e caminhar para a salvação. Assim, poderá fazer aquilo que tanto quer mas nunca consegue, ou seja, expressar-se! Mais uma vez, é impossível não deixar de fazer uma comparação com a situação actual dos emigrantes nos EUA, que contam como força produtiva, mas que são altamente marginalizados e pouca margem têm para se exprimir. Em suma, uma obra a descobrir!

Classificação: 4/5

4 comentários:

Betty Coltrane disse...

Absofuckinglutly!LOL!
Bolas, escreves muito melhor sobre filmes do que eu... hehe!

Maravilhoso, adorei!
Era de repetir, se não tivéssemos de voltar de táxi... :/

Cataclismo Cerebral disse...

Obrigado querida. You are the best :)

Bjitos e nice weekend

SF disse...

Não o teria descrito melhor. Pena que nunca te vi, de certeza que nos cruzámos por lá. Fica para outra sessão.
Bjo

Cataclismo Cerebral disse...

Minha nossa, que coincidência. Cruzámo-nos de certeza. Gostei mesmo muito do filme.

Bjs