sexta-feira, 13 de junho de 2008

The New World - O Novo Mundo (2005)

O Admirável Mundo Novo

Terrence Malick deve ser dos cineastas mais insondáveis do grande cinema americano. O autor 'eremita' raras vezes surge em eventos públicos, gere a carreira com pulso firme e alimenta uma aura de outsider criativo que recolhe os aplausos de diversos quadrantes (e muita inveja por parte dos seus pares, quase de certeza). O que é intrigante nos malabarismos deste jogo enigmático é que, mesmo com uma cinematografia reduzida (entre 1973 e 2005, Malick só nos presenteou com... 4 filmes), o realizador continua a possuir o condão de atiçar a curiosidade do público e dos media aquando da estreia de um projecto seu. Relembremos, então, a sua obra até ao momento: Badlands (1973), Days of Heaven (1978), The Thin Red Line (1998) e este The New World (2005). Pode ser frustrante constatar a pouca quantidade produzida em todos estes anos de labor, mas a imensa qualidade do conjunto suaviza esse triste pensamento.

The New World é a visão de Terrence Malick sobre o encontro feérico de duas bonitas almas, o capitão John Smith e a nativa Pocahontas. No século XVII, as embarcações inglesas navegam pelo Atlântico em busca de territórios virgens com potencial de riqueza. Ao alcançarem a costa da Virgínia, os colonizadores ingleses assentam arraiais, dando origem à colónia de Jamestown. No entanto, a fraca experiência do conjunto no desbravar de novos mundos cedo se faz notar, quando a fome colide com os seus objectivos e a procura de ouro se torna uma miragem arrasadora. Perante este cenário desolador, o Capitão Newport atribui ao também Capitão John Smith a tarefa de liderança de uma expedição em busca de alimentos. Inesperadamente, o grupo de homens é cercado e dizimado pelos elementos da tribo reinante Powhatan, e apenas Smith vê a sua vida ser poupada. Já na aldeia dos nativos, o capitão conhece a bela filha do chefe, Pocahontas, por quem se perde de amores...

Este pungente épico romântico, autêntico hino à contemplação transcendente e à salutar grandiosidade do espírito humano, está contaminado por um lirismo quase inebriante. O filme encontra-se embevecido, do princípio ao fim, com a poesia visual que apresenta. E tem razões para isso. A arrebatadora fotografia a cargo de Emmanuel Lubezki aposta tudo na exploração das paisagens naturais em toda a sua plenitude; o que se ganha é um passe para uma dimensão etérea e delicadamente assombrosa. A câmara de Malick é igualmente obsessiva na captação dos mais ínfimos pormenores, dos pequenos gestos aparentemente insignificantes que contêm um mar de singela beleza e que ecoam os mais puros sentimentos.

Mas infelizmente existem algumas pontas soltas no filme que contrastam com a excelência dos resultados obtidos no plano visual. Acontece que The New World perde o fio à meada no que diz respeito ao desenvolvimento humano das suas personagens, uma vez que não abdica nem por instantes da primazia concedida ao espectáculo das imagens. Em determinados momentos também se sente que a narrativa se torna algo letárgica, o que é pena. A voz off demasiado explicativa é que não ajuda nada, embora queira reflectir fielmente os estados de alma das personagens. Percebe-se a intenção, mas o problema é que essa opção, para além de quase não ser necessária e prejudicar o nosso natural envolvimento, roça o entediante devido à vulgaridade daquilo que é dito.

Q`Orianka Kilcher (prima da cantora Jewel) tinha apenas 15 anos quando lhe foi colocado o difícil desafio de interpretar a personagem de Pocahontas, mas a jovem e bela actriz compreendeu os objectivos de Malick e revela ter uma genuína capacidade de composição dramática aliada a uma imensa sensibilidade. Faço votos de que Kilcher construa uma carreira interessante, porque o talento ela tem. Colin Farrell e Christian Bale completam o triângulo amoroso desta aventura de abordagem clássica.


Classificação: 3/5

10 comentários:

Maria del Sol disse...

Há muito tempo que ando com vontade de ver este filme. Lembro-me que na época em que estreou nos cinemas recebeu muito boas críticas, e uma reportagem que sobre o making of, mostrando alguma da magnífica fotografia que é contida na obra, ainda aguçou mais a minha curiosidade. Obrigada por me dares mais esta ideia para uma futura visita ao videoclube. :)

Loot disse...

Para mim este é 5 estrelas :)
Pura poesia cinematográfica.

Abraço

Hugo disse...

Ainda não tive oportunidade de assistir este, mas Malick é um cineasta único, daqueles que não agradam a todos.
Assisti seu outros três filmes, muito bons por sinal e por exemplo, "The Thin Red Line" é extremamente lento, com enquadramentos belíssimos,
mas com certeza um filme para cinéfilos apenas, não para o público jovem acostumado com as produções aceleradas.

Abraço

Anônimo disse...

Acho sinceramente um filme monótono, muito bonito visualmente mas com uma história meio lenta e uma pééééssima atuação, pra variar, do Colin Ferrel...

pseudo-autor disse...

Mallick é estupendo. Novo Mundo não é o melhor filme dele (Para mim, esse posto é de Cinzas no Paraíso), mas foi o único diretor que conseguiu extrair algo do ator Colin Farrel. A história é belíssima e a fotografia chega a sufocar os admiradores da arte.

Em suma, desde que kubrick faleceu, ninguém faz uma cidade tão precisa quanto ele.

JHB disse...

Eu gostei bastante deste, dava-lhe mais do que 3 em 5. Malick consegue sempre ser visualmente arrebatador, acho que actualmente ninguém filma os grandes planos naturais como ele, no Thin Red Line e neste Novo Mundo, dá para esquecer tudo o resto... Até o Colin Farrel por quem nutro uma particular antipatia.

Abraço

Cataclismo Cerebral disse...

Maria: De nada ;) Apesar de não o achar um grande filme, é ainda assim um filme a ver, com boas interpretações e uma fotografia arrebatadora.

LOOT: Poesia visual tem a rodos, mas precisava de um argumento com mais desenvoltura.

Hugo: Também gostei de The Thin Red Line e admiro o Malick, mas este The New World só me agradou a meio-gás. Os filmes do realizador não se prendem com os parâmetros comerciais do meio nem com os tipos de público desse nicho.

o cara da locadora: Estamos na msma onda. É um filme com uma fotografia belíssima, mas com uma narrativa letárgica. Acho no entanto que concentra uma boa interpretação de Farrell.

contra-regra: O talento de Malick é imenso!

jhb: Queria ter gostado muito deste filme, mas algumas falhas de caracterização de personagens e um argumento demasiado preso à pura contemplação deixaram-me de pé atrás. Ainda assim reomendo-o!

Abraços

Blueminerva disse...

Ainda não vi mas tenho curiosidade porque vi o "The thin red line" e adorei, mas confesso, ter Colin Farrell no elenco não é nada apelativo, já que o acho medíocre... mas vá... é giro que se farta!
Um abraço

Nia disse...

Um dos filmes da minha vida :)

Saudações cinéfilas,
Nia

Cataclismo Cerebral disse...

Blueminerva: É um filme interessante, com boas interpretações. O Colin vai bem neste papel, dá-lhe uma hipótese.

Nia: Queria ter gostado mais, confesso. Mas o saldo é positivo, claro.

Abraços e saudações cinéfilas ;)