domingo, 29 de junho de 2008

Speed Racer (2008)

Velocidade de Cruzeiro

Um filme de acção hiperbólica para toda a família, que funde universos distintos. A saber: banda-desenhada, videojogos, desenho-animado e imagem real. É mais ou menos assim que se pode definir a nova experiência de Andy e Larry Wachowski, se bem que o conceito de 'entretenimento para toda a família' cause alguma estranheza após o visionamento do filme. A verdade é que Speed Racer é uma obra kitsch bastante violenta para as crianças, mas também demasiado ingénua para os adultos. Não se percebe bem qual o público-alvo que o filme pretende atingir, mas começo a achar que deve rondar a faixa etária dos 13 anos, que se encontra viciada em jogos de computador do género 'acção imparável' e que devora todo o tipo de guloseimas.

Enfim, ainda não foi desta que a impenitente dupla de realizadores me conseguiu convencer definitivamente do seu talento. É com desencanto que digo que cada vez mais parece que o excelente Bound (1996) foi um erro de percurso. Desde esse brilhante momento criativo que espero com ansiedade que os manos consigam criar uma obra que respire com inteligência as coordenadas da linguagem cinematográfica, sem que para isso se tenham de desprender dos enleios das tecnologias digitais que dominam na perfeição.

Speed Racer recupera a popular série de anime japonesa de finais dos anos 60, que teve a sua origem numa igualmente famosa banda-desenhada. Speed Racer é o nome de um jovem ás do volante, destinado a saborear a vida em alta velocidade no seu carro Mach 5 e nas mais diversas competições. A prática deste desporto automobilístico não se esgota apenas em Speed; alastra-se também à sua família, que igualmente vibra com as correrias e até gere um negócio nesse meio. Mas a tragédia já bateu um dia à porta dos Racer: o filho primogénito, o célebre Rex Racer, perdeu a vida num trágico acidente.

Sentindo que deve homenagear os feitos do irmão e manter-se unido à estrutura familiar que tanto preza, Speed recusa assinar um lucrativo contrato com a Royalton Industries, uma poderosa e malévola organização. Essa decisão não é bem acolhida pelo demoníaco proprietário da empresa, que jura prejudicar a carreira de Speed. Para salvar o sustento da família e dignificar o desporto que o apaixona, o jovem talento alia-se a um enigmático corredor - o Racer X - e enfrenta a Royalton no seu próprio campo de batalha, ou seja, o local de competições que ceifou a vida do seu irmão...

Mais do que um filme, Speed Racer é um produto descartável, uma autêntica inanidade de ideias e criado somente para o gáudio dos próprios irmãos Wachowski. É como aquela espécie de private joke à qual ninguém deveria ter acesso, mas que infelizmente todos acabam por saber. O argumento é para lá de paupérrimo (os diálogos são sofríveis, existe uma atitude claramente anti-empresarial que nunca chega a ser bem explorada e a inevitável moral delicodoce da importância da força familiar) e as cenas de acção, certamente um atractivo para muita gente, resultam enjoativas até mais não. A estética completamente artificial anula qualquer possibilidade de envolvimento.

Não há aqui qualquer noção de plano, vertigem, ameaça ou incómodo; assistimos apenas a um pueril desfile de imagens hi-tech alucinadas (com uma paleta de cores garridas que quase ferem as órbitas e com um tom marcadamente pop) que parecem saídas de um jogo de pinball on acid. Este é mais um caso em que se confunde uma rápida sucessão de imagens ruidosas com intensidade emocional e onde o aborrecimento de morte se torna uma presença inevitável. Nem no patamar das interpretações Speed Racer encontra a salvação: gente tão ilustre como Susan Sarandon, John Goodman, Christina Ricci e a estrela em ascensão Emile Hirsch (recém-saído do fabuloso Into The Wild, de Sean Penn) não fazem jus ao seu imenso talento e parecem algo perdidos nesta nulidade em forma de filme.

Este é mais um passo dos realizadores no trilho da indigência criativa. Surpreendentemente, Speed Racer não foi o mega-sucesso que prometia arrasar com as bilheteiras norte-americanas. Será que o público já se apercebeu que a dupla está a ficar sem ideias?


Classificação: 0/5


quinta-feira, 26 de junho de 2008

Os Mais Esperados por este Blog: #1


The Exchange, de Clint Eastwood. O novo filme do realizador de Million Dollar Baby (cujo título passou de Changeling para The Exchange) conquistou completamente a atenção deste blog! A história encontra-se à beira do inacreditável, mas baseia-se nos eventos reais ocorridos na Los Angeles de 1928. Quando o filho de Christine Collins (Angelina Jolie) é dado como desaparecido, a polícia apressa-se a acalmar os boatos de incompetência que se espalham pela cidade. A jovem mulher é então confrontada com um outro miúdo que a polícia diz ser o seu filho e que, ainda por cima, a trata por mãe. Christine sabe que aquele não é o seu filho e como se recusa a aceitar toda a situação, vê-se então obrigada a ser internada numa instituição psiquiátrica... Cannes aplaudiu o filme e Angelina Jolie, que esteve às portas de arrebatar a Palma de Ouro para Melhor Actriz. Este título poderá ser uma das fortes presenças na próxima edição dos Óscares.

terça-feira, 24 de junho de 2008

Os Mais Esperados por este Blog: # 2


Australia, de Baz Luhrmann.
Um épico romântico de recorte clássico e visualmente arrebatador que volta a juntar Nicole Kidman e Baz Luhrmann, sete anos depois de terem brilhado a grande altura com Moulin Rouge!. É mais ou menos assim que se pode definir este Australia, um projecto que tem causado burburinho desde o começo. A história ocorre no início da 2ª Guerra Mundial e desenvolve-se em torno de uma aristocrata inglesa que herda uma propriedade no nordeste australiano. Para proteger a sua herdade dos interesses de terceiros, a jovem mulher alia-se a um experiente vaqueiro (Hugh Jackman). Ao conduzir 2.000 cabeças de gado por terras australianas, o par assiste ao bombardeamento da cidade de Darwin pelo exército japonês. A estreia do filme em Portugal está prevista para 25 de Dezembro.

segunda-feira, 23 de junho de 2008

Os Mais Esperados por este Blog: # 3

Savage Grace, de Tom Kalin. Quer-me parecer que este filme está irremediavelmente condenado a ser um objecto obscuro, daqueles menosprezados pelo público e pelo jornalismo mais sensacionalista. Baseando-se num caso verídico, Savage Grace conta a brutal história da socialite Barbara Daly, que casou com um empresário da área dos plásticos e que manteve com o filho uma perturbante relação incestuosa. Diz-se que esta tragédia familiar contém uma das melhores interpretações de sempre de Julianne Moore.

domingo, 22 de junho de 2008

Os Mais Esperados por este Blog: # 4


Vicky Cristina Barcelona, de Woody Allen. O realizador nova-iorquino decidiu mudar de paisagem e desta vez filmou em Espanha. O resultado é um jogo amoroso que envolve duas amigas (Scarlett Johansson e Rebecca Hall) que se encontram a passar férias em terras espanholas e o homem pelo qual se apaixonam, um pintor (Javier Bardem). Entra depois em cena a ex-mulher deste, Maria Elena (Penélope Cruz), com quem o pintor mantém uma relação conflituosa. A recepção de Vicky Cristina Barcelona no último Festival de Cannes não foi magnífica, mas ainda assim existe muita expectativa para este 'rebento' de Woody Allen. Pode estar aqui uma das pérolas do ano!

sábado, 21 de junho de 2008

Os Mais Esperados por este Blog: #5


Stop-Loss, de Kimberly Peirce. Nove anos depois, a realizadora de Boys Don't Cry (filme que valeu a Hillary Swank o primeiro Óscar da sua carreira) regressa às longas-metragens, para para nos oferecer um drama de guerra. Inspirada pela incursão do seu irmão mais novo no território militar, Peirce narra aqui a história do soldado Brandon King que, após regressar das suas funções no Iraque, se vê forçado a lá voltar. Tudo por causa de uma cláusula pouco conhecida entre os combatentes (a Stop-Loss do título) que obriga a essa remobilização. Este acontecimento inesperado fará com que King avalie o poder do amor, da honra e da amizade. Mais uma valente crítica à estratégia militar norte-americana e aos efeitos devastadores que esta provoca nos seus 'filhos' ? Esperemos que sim!

quarta-feira, 18 de junho de 2008

The Happening - O Acontecimento (2008)

Um Infeliz Acontecimento

Para mal dos seus pecados, M. Night Shyamalan ficou para sempre preso numa redoma alicerçada pelo público, que se arrepiou no final dos anos 90 com o excelente The Sixth Sense e que ficou completamente embasbacado com o já célebre twist final. Desde então, o seu percurso tem-se pautado por obras de grande qualidade, que reflectem sobre temas universais e que contemplam uma visão singular e desencantada sobre as características da actual nação americana.

No entanto, esses títulos não conseguiram repetir a espectacular adesão obtida pela obra de 1999. É a triste sina deste grande cineasta: embora o seu currículo esteja repleto de obras cada vez mais fabulosas, a verdade é que parece que o seu trabalho só será tido em conta se apresentar uma reviravolta que deixe meio-mundo de boca aberta. Efeitos colaterais (e esmagadoramente perversos): a forma profunda e inteligente como Shyamalan mergulha nos seus temas, as simbologias ávidas de descodificação e o rigor magnetizante da sua realização são injustamente marginalizados.

The Happening orquestra o conceito de paranóia generalizada que se instaurou no seios dos EUA no pós- 11 de Setembro. The Village já tinha abordado este tema na perfeição, se bem que de uma forma mais subtil. Nesse caso, tratava-se de uma alegoria assombrosa sobre o medo colectivo, a alienação auto-imposta, o amor incondicional e um clima de ameaça permanente. Neste novo filme, Shyamalan pega na temática ambiental (que cada vez mais é um assunto na ordem do dia) e encena uma parábola algo desconcertante sobre a revolta e consequente vingança da Natureza contra o Homem, após os actos prejudiciais cometidos pelas mãos deste. No limite, The Happening reinventa a velha moral que diz que degradar o meio ambiente é o equivalente a destruir progressivamente a nossa própria existência.

Este thriller ecológico nutre-se do espectro de Hitchcock para recriar o modelo de terror inexplicável que o mestre tão bem soube gerir no majestoso The Birds. Shyamalan ainda nos sabe arrepiar como poucos, mesmo que esteja a trabalhar com parcos recursos. O poder de sugestão deste filme é a sua mais-valia: tudo é relevante, até o mais pequeno pormenor; certos planos destilam uma aura maquiavélica que incomoda; o vento, as nuvens, as plantas e os sons colocam os nervos do espectador em sentido. Este encontra-se sempre em busca de uma justificação racional para a ameaça devastadora que se vai alastrando. O modo de realização, que se aproxima do espírito clássico, intensifica o medo e o envolvimento com a história, só que infelizmente o filme nunca chega a deslumbrar.

A premissa é bastante sugestiva, mas com o desenrolar da narrativa percebe-se que Shyamalan está a operar sobre material dramático muito escasso, restando-lhe apenas ceder a alguns truques visuais para impressionar. Ou seja, as mensagens que se pretendem veicular são interessantes, mas o resultado final não é apelativo o suficiente para se implantar na nossa memória. Sente-se sobretudo a falta das ressonâncias morais, religiosas e românticas que imperaram nas suas obras anteriores e que nos acompanharam muito depois do visionamento desses filmes.

The Happening deixa um certo desencanto no ar, uma sensação de vazio, apesar de ser um entretenimento razoável. A frustração inflama-se quando se chega à conclusão que alguns momentos nesta fita são decalcados de outros títulos marcantes da filmografia do cineasta indiano. Este factor 'colagem' não só é decepcionante como parece indiciar que Shyamalan se alienou de alguma da sua garra criativa. Algumas cenas desnecessárias (para não ter de dizer ridículas) também não ajudam à festa.

A escolha do par protagonista é sofrível: tanto Mark Wahlberg como Zooey Deschanel constituem erros de casting. Para além de serem actores dramaticamente limitados, a química entre ambos nunca funciona como seria de esperar. Por seu lado, a banda-sonora atmosférica e arrepiante triunfa por completo, fazendo-nos recordar a arte de bem manipular as emoções. Enfim, resta esperar que o realizador regresse ao seu pulso natural. É que The Happening está mesmo a anos-luz da qualidade dos seus trabalhos. E não espelha totalmente o enorme talento que reside neste génio do cinema contemporâneo.


Classificação: 2/5

terça-feira, 17 de junho de 2008

A (Re)Descobrir...


Very Bad Things - Eram Todos Bons Rapazes (1998): Nas vésperas do casamento com uma namorada muito neurótica, o noivo e os amigos fazem uma viagem para Las Vegas, com o objectivo de lá realizar a festa de despedida de solteiro. Um quarto de hotel recebe então o grupo, que se encontra abastecido de álcool e drogas. Um dos atractivos da noite é a presença de uma prostituta asiática, que acaba por morrer brutalmente durante uma sessão de sexo na casa-de-banho. Para se fugir aos problemas com a justiça, segue-se a matança do curioso empregado de hotel, o enterrar dos cadáveres no deserto e uma série de mortes que inclui elementos do grupo de amigos. Até à hora da cerimónia, vai correr muito sangue, suor e lágrimas... Mesmo sem ser um grande filme, esta é uma comédia negríssima realmente divertida, com um humor sem concessões. Foi realizada pelo actor Peter Berg e conta com as participações de uma muito jovem Cameron Diaz, Christian Slater, Jon Favreau (realizador do recente Iron Man) e Jeremy Piven (o implacável Ari Gold de Entourage). Um verdadeiro guilty pleasure!

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Música do Dia...

The New World - O Novo Mundo (2005)

O Admirável Mundo Novo

Terrence Malick deve ser dos cineastas mais insondáveis do grande cinema americano. O autor 'eremita' raras vezes surge em eventos públicos, gere a carreira com pulso firme e alimenta uma aura de outsider criativo que recolhe os aplausos de diversos quadrantes (e muita inveja por parte dos seus pares, quase de certeza). O que é intrigante nos malabarismos deste jogo enigmático é que, mesmo com uma cinematografia reduzida (entre 1973 e 2005, Malick só nos presenteou com... 4 filmes), o realizador continua a possuir o condão de atiçar a curiosidade do público e dos media aquando da estreia de um projecto seu. Relembremos, então, a sua obra até ao momento: Badlands (1973), Days of Heaven (1978), The Thin Red Line (1998) e este The New World (2005). Pode ser frustrante constatar a pouca quantidade produzida em todos estes anos de labor, mas a imensa qualidade do conjunto suaviza esse triste pensamento.

The New World é a visão de Terrence Malick sobre o encontro feérico de duas bonitas almas, o capitão John Smith e a nativa Pocahontas. No século XVII, as embarcações inglesas navegam pelo Atlântico em busca de territórios virgens com potencial de riqueza. Ao alcançarem a costa da Virgínia, os colonizadores ingleses assentam arraiais, dando origem à colónia de Jamestown. No entanto, a fraca experiência do conjunto no desbravar de novos mundos cedo se faz notar, quando a fome colide com os seus objectivos e a procura de ouro se torna uma miragem arrasadora. Perante este cenário desolador, o Capitão Newport atribui ao também Capitão John Smith a tarefa de liderança de uma expedição em busca de alimentos. Inesperadamente, o grupo de homens é cercado e dizimado pelos elementos da tribo reinante Powhatan, e apenas Smith vê a sua vida ser poupada. Já na aldeia dos nativos, o capitão conhece a bela filha do chefe, Pocahontas, por quem se perde de amores...

Este pungente épico romântico, autêntico hino à contemplação transcendente e à salutar grandiosidade do espírito humano, está contaminado por um lirismo quase inebriante. O filme encontra-se embevecido, do princípio ao fim, com a poesia visual que apresenta. E tem razões para isso. A arrebatadora fotografia a cargo de Emmanuel Lubezki aposta tudo na exploração das paisagens naturais em toda a sua plenitude; o que se ganha é um passe para uma dimensão etérea e delicadamente assombrosa. A câmara de Malick é igualmente obsessiva na captação dos mais ínfimos pormenores, dos pequenos gestos aparentemente insignificantes que contêm um mar de singela beleza e que ecoam os mais puros sentimentos.

Mas infelizmente existem algumas pontas soltas no filme que contrastam com a excelência dos resultados obtidos no plano visual. Acontece que The New World perde o fio à meada no que diz respeito ao desenvolvimento humano das suas personagens, uma vez que não abdica nem por instantes da primazia concedida ao espectáculo das imagens. Em determinados momentos também se sente que a narrativa se torna algo letárgica, o que é pena. A voz off demasiado explicativa é que não ajuda nada, embora queira reflectir fielmente os estados de alma das personagens. Percebe-se a intenção, mas o problema é que essa opção, para além de quase não ser necessária e prejudicar o nosso natural envolvimento, roça o entediante devido à vulgaridade daquilo que é dito.

Q`Orianka Kilcher (prima da cantora Jewel) tinha apenas 15 anos quando lhe foi colocado o difícil desafio de interpretar a personagem de Pocahontas, mas a jovem e bela actriz compreendeu os objectivos de Malick e revela ter uma genuína capacidade de composição dramática aliada a uma imensa sensibilidade. Faço votos de que Kilcher construa uma carreira interessante, porque o talento ela tem. Colin Farrell e Christian Bale completam o triângulo amoroso desta aventura de abordagem clássica.


Classificação: 3/5

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Jodie Foster em Acção...

The Silence Of The Lambs - O Silêncio Dos Inocentes (1991)


Panic Room - Sala de Pânico (2002)


Flightplan - Pânico A Bordo (2005)




The Brave One - A Estranha Em Mim (2007)

segunda-feira, 9 de junho de 2008

Ferris Bueller's Day Off - O Rei dos Gazeteiros (1986)

Um Dia em Grande!

Que é feito do talentoso argumentista e realizador John Hughes? Nos anos 80, Hughes era proclamado rei pela criação de filmes comerciais de grande qualidade que se direccionavam aos teenagers. Melhor ainda era a escrita do senhor, que sempre tratou a camada jovem com o que respeito que esta merece. Nos seus filmes, os adolescentes pensavam com inteligência, tinham problemas e no entanto não deixavam de ser muito divertidos, espontâneos e... reais! Lembremo-nos, por exemplo, do emblemático The Breakfast Club, o filme de Hughes que é uma autêntica pérola dos anos 80 e que representa bem a essência do "ser adolescente com miolos". Infelizmente essa época ficou perdida no tempo e actualmente somos presenteados com filmes teen pueris, irritantes e ocos. Apetece dizer: bons velhos tempos!

Ferris Bueller's Day Off toca num ponto nevrálgico de todos os que já passaram pela vida liceal. A saber: como arranjar desculpas para faltar às aulas e, mais importante, como aproveitar essas baldas da melhor forma possível? Ferris é o detentor das respostas. Decididamente o aluno mais popular da comunidade estudantil, Ferris é o típico miúdo com capa de santo à frente dos pais que na verdade é um mestre nas desculpas esfarrapadas para evitar um dia secante de matéria escolar. A sua popularidade é tal que todos o veneram e recorrem às suas artimanhas (a esquadra policial faz parte do grupo de fãs do jovem). Encostado à parede pelo número de faltas acumuladas, Ferris decide que já só se pode baldar um dia. E esse dia terá de ser memorável! Equipado com a namorada e com o perturbado amigo, Ferris decide aproveitar a "greve" ao máximo. O que ele não conta é com a perseguição obsessiva do director do liceu e da sua própria irmã, determinada a provar aos pais a verdadeira faceta de Ferris.

Esta é uma carta de amor à liberdade, à amizade e ao saborear da vida, antes da entrada definitiva no mundo dos adultos. Apesar de toda a loucura que é aqui semeada, o filme contém diálogos deliciosos e sentidos que reflectem o modo de pensar daqueles que se encontram nesta fase da vida. Ferris Bueller's Day Off foi um sucesso junto do público e crítica que deu a Matthew Broderick o papel que lhe lançou para o estrelato. Continua com uma imensa frescura, embora já se tenham passado 22 anos.


Classificação: 4/5

sexta-feira, 6 de junho de 2008

TOP 5 Julianne Moore

1) Far from Heaven - Longe do Paraíso (2002)


2) The Hours - As Horas (2002)


3) The End of the Affair - O Fim da Aventura (1999)


4) Boogie Nights - Jogos de Prazer (1997)


5) Magnolia (1999)


Algo me diz que a interpretação da senhora no muito aguardado Savage Grace irá dar as voltas a este TOP, mas até lá fica como está...

quinta-feira, 5 de junho de 2008

The Island - A Ilha (2005)

Perigo Iminente

Parece que Michael Bay está apostado a cumprir um único objectivo enquanto realizador: registar a maior dose de caos por filme, como que a querer cumprir uma qualquer quota. Basta lembrar, por exemplo, as desventuras dos dois Bad Boys e Armageddon. É certo e sabido que os argumentos às ordens de Bay são uma mera desculpa para filmar a acção desbragada, onde a alta velocidade mais enjoativa é rainha e a destruição massiva de tudo o que surge à frente é uma realidade incontornável. O fogo de artifício está empre presente, as perseguições são inevitáveis e a sensação de vazio é uma certeza absoluta. Para não variar, A Ilha não foge muito a este enquadramento.

Desta vez o realizador quis alterar um pouco o rumo das coisas, ao ceder a um argumento um pouco mais trabalhado do que é costume. Mas o esforço não valeu de muito, já que A Ilha pega numa temática interessante - a clonagem e respectivas complexidades e consequências - mas está-se completamente a borrifar para o aprofundar da mesma. É inevitável: Bay não está aqui preocupado com o desenvolvimento narrativo, tal como nunca esteve em nenhum dos seus outros projectos. Ainda assim, este é bem capaz de ser o seu filme com mais "sumo", apesar de tudo.

Passemos ao que interessa: situada num local remoto, encontra-se uma instalação hi-tech de grande beleza e de ambiente asséptico, que acolhe um considerável número de habitantes. Esta população, devidamente controlada por autoridades superiores, é ocasionalmente alvo de uma lotaria interna que premeia um dos habitantes com a ida para o destino mais que desejado. A saber: a Ilha, o último local do Mundo que não se encontra infectado e que corresponde inteiramente à noção de paraíso. Todos esperam a sua vez para se mudarem de malas e bagagens para lá, mas o habitante Lincoln Six-Echo começa a desconfiar da natureza dessa viagem. Quando a verdade sobre as identidades dos moradores vem ao de cima, Lincoln e a sua amiga Jordan Two-Delta escapam do complexo e são perseguidos implacavelmente pela forças de controlo...

A Ilha conta com excelentes valores de produção, traduzidos em cenários altamente sofisticados e equipamentos luxuosos. Ao nível do visual é inegável que se trata de um filme apelativo, mas nem isso foi o suficiente para atrair o público. A enorme aplicação monetária neste projecto não foi recompensada com lucro nas bilheteiras. De facto, A Ilha foi um fiasco monumental, um daqueles tipos de veneno que de vez em quando ataca o box-office norte-americano. A escolha do elenco soou a estranho desde o início, mas foi uma clara tentativa de aplicar prestígio a um produto rotineiro. Scarlett Johansson (cuja fotogenia é aqui celebrada entusiasticamente) e Ewan McGregor, actores normalmente ligados a filmes de menor orçamento e de maior qualidade, vão bem nos seus papéis, se bem que não lhes seja pedido para fazer muito mais do que correr o tempo todo.

É uma pena que o filme, para além de se perder na escolha do tom, cometa o erro de confundir correria tresloucada com intensidade emocional. Com tanta confusão visual a disparar de todos os lados, chega a ser estranho que o aborrecimento irrompa, mas é isso que acontece. Sem nada de particularmente memorável, fica-se com mais um thriller de acção descartável, influenciado por obras do passado, muito bonito mas com um teor demasiado light para deixar mossa (embora se use de um tema social e moralmente polémico).


Classificação: 1/5

terça-feira, 3 de junho de 2008

A (Re)Descobrir...


May (2002): Este conto psicológico muito negro relata o quotidiano de May, uma jovem marcada por uma infância traumática que apresenta sérias dificuldades de interacção social. Quando a sua boneca de louça (única amiga e confidente) se parte, May lança-se na criação de uma nova "companheira". O busílis é que a jovem começa a matar as pessoas com quem se cruza, recolhendo de cada vítima a sua melhor "parte" (mãos, pernas, braços, ...) e aplicando-a no seu projecto demente. Doentio mas também algo cómico, May é um indie de culto bem interpretado e realizado, onde a palavra 'originalidade' encaixa muito bem. O filme tem tudo para se tornar uma presença obrigatória nas sessões de cinema exibidas por altura do Halloween!