quarta-feira, 28 de maio de 2008

Planet Terror - Planeta Terror (2007)

A Noite dos Mortos-Vivos

Quando uma estranha epidemia se começa a alastrar pela cidade, infectando os seus habitantes e transformando-os em zombies assassinos, então é altura de pôr as pernas a andar! Esta tarefa é particularmente difícil para Cherry, uma bela bailarina de striptease cuja perna foi arrancada sem dó nem piedade num infeliz incidente numa estrada. Apenas Wray, um antigo amante da dançarina e um expert no manejar de armas, a poderá salvar de todo o caos instalado. A partir do momento em que o número de infectados aumenta exponencialmente, Wray e Cherry decidem reunir um pequeno grupo de sobreviventes, enfrentar os ataques ferozes que surgem de todos os quadrantes e fugir para algures onde a segurança seja um dado adquirido.

E eis que o impensável aconteceu: Planet Terror, a outra metade do projecto Grindhouse a cargo de Robert Rodriguez, não só não perde na comparação com a empreitada de Quentin Tarantino (Death Proof), como na verdade consegue ser um pouco superior a esse segmento. Este facto constitui uma enorme supresa, tendo em conta que nunca tive o trabalho de Rodriguez em grande consideração. A sua insistência em privilegiar um certo cinema cartoonesco, sem qualquer tipo de substância, com argumentos esburacados e minados de clichés, nunca me foi apelativo.

Desta vez o vento soprou-lhe de feição: o realizador mexicano apreendeu a natureza do género sobre o qual iria operar, conjugou-a com as suas leis cinematográficas e assim conseguiu transpor os códigos do conceito Grindhouse com maior eficácia do que o autor de Reservoir Dogs. Planet Terror revela-se uma diversão contagiante, um guilty pleasure que saceia a nossa dimensão mais endiabrada ou até mesmo infantil. Era isto que se pretendia desde o início: um passaporte para um universo xunga que se coaduna com o espírito mais pueril daqueles que aceitam de antemão as regras deste jogo tresloucado. Quem não se identifica com os propósitos da jogada, é favor ficar de fora!

Visualmente mais imperfeito e retro (o filme parece realmente saído dos confins dos anos 70), Planet Terror apresenta-se também mais divertido, trashy e com muito mais gore do que o seu "irmão". Neste batido que faz as vénias aos filmes de exploitation que tão descaradamente invoca existe ainda uma piscadela de olho às marcas autorais de gente tão ilustre como John Carpenter e George Romero. E só apetece dizer que bem que este aglomerado de influências convive. O humor sem concessões é delirante (sem esquecer os one-liners deliciosos que moram aqui) e a noção de auto-indulgência é um factor que aumenta ainda mais a simpatia para com o filme. Este desfile de zombies e de sexy girls à beira de um ataque de nervos conta com a presença insinuante de uma Rose Mcgowan decidida a colocar a sua Cherry no catálogo das figuras icónicas do cinema do século XXI.

Por último, um tirar de chapéu a Rodriguez pela boa gestão dos desafios a que se propôs: não só escreveu e realizou o filme, como compôs a banda-sonora e esteve à frente da direcção de fotografia. Muitas tarefas, mas uma aventura bem-sucedida.


Classificação: 3,5/5

8 comentários:

CP disse...

Sei que isto de dar classificações é um caraças mas depois de ler a tua crítica, com a qual concordo plenamente, porque não chegou este filme aos 4 valores? Só pergunto isto porque não me parece que tenhas desgostado de qualquer parte do filme, do seu género, da sua mecânica etc.
:)
Enfim, keep it up. É um prazer ler as tuas o que escreves.

Gooffy007 disse...

Confesso que fiquei um pouco desiludido, achei que esta segunda feature do GrindHouse ficou a anos do luz do Tarantino, esse sim delicioso.

Betty Coltrane disse...

olá amigo!


desafio no meu blog! =)

Isabela disse...

Eu vi o poster e o trailer do filme, e fiquei com agua na boca. Porem, ainda nao vi, pois estava meio relutante, achando que seria apenas mais um filme meia-boca. Quem sabe agora, nao crio coragem.

Cataclismo Cerebral disse...

CP: Porque apesar de tudo não é memorável o suficiente para merecer nota 4. Está ali entre um razoável e um bom...

Gooffy007: Estou no lado oposto ;) O do Tarantino é divertido, mas faltou-lhe ali um golpe de asa que o encaixasse melhor no conceito Grindhouse.

Betty: Já está feito! ;)

Isabela: Não é obra-prima, mas vale bem o visionamento!

Abraços

Hugo disse...

Ainda não assisti nenhum dos dois filmes, mas Robert Rodriguez e Tarantino sempre merecem uma visita.

Vou fazer em breve.

Abraço

Anônimo disse...

Opa, acabei de encontrar o seu blog lá no do Red Dust e vim dar uma conferida... Achei interessante esse post exatamente por fazer esse comparativo ao seu co-irmão do Tarantino que eu ainda não tive a oportunidade de ver, no mais gostei muito do que você disse, depois dá uma lida no que foi dito lá no meu... Planeta Terror abraços...

Cataclismo Cerebral disse...

Hugo: Este projecto salda-se pela positiva, embora as voltas tenham-me sido trocadas. Esperava que o melhor filme fosse o de Tarantino e afinal foi o de Rodriguez...

Cara da locadora: Dou um salto por lá sem falta.

Abraços