quinta-feira, 2 de agosto de 2007

Closer - Perto Demais (2004)

Hello stranger!

Ela caminha na rua e olha para ele. Mal sabe ela o jogo em que está a entrar. Um acidente intervém e eles conhecem-se! A partir daqui somos convidados a observar a vida de quatro pessoas que tentam desesperadamente encontrar o amor. São eles Anna, Alice, Dan e Larry. Dan e Alice formam um casal. Anna e Larry, outro. Mas a instabilidade amorosa é uma das características destas personagens, que não conseguem decidir muito bem o que querem, ou quem querem, para as suas próprias vidas. Ocorre a inevitável troca de parceiros e desenrolam-se inúmeras manipulações e jogos de traições. É por isso que, mais do que o amor, o que está em causa é o poder, o controlo de si mesmo e dos outros!

E nisto, Larry (Clive Owen) é o melhor, um manipulador nato e perito em jogadas arriscadas. É médico de profissão, mas tal cargo de prestígio não evita que ele seja moralmente corrupto e, assim sendo, o mais "sujo" de todos. No pólo oposto encontramos Alice (Natalie Portman), uma stripper cuja profissão é imediatamente associada ao deboche, mas que no entanto é a única personagem que conserva alguns valores morais e que bem tenta manter forte as bases da sua relação. O seu companheiro é o frágil Dan (Jude Law), um escritor de obituários, que não consegue enfrentar as complicações do coração e que é assim o mais fraco e manipulável dos quatro (repare-se que as únicas vezes em que ele se apercebe totalmente do que se está a passar é quando se vê reflectido nos espelhos, seja na casa de banho ou no elevador). Por fim, Anna (Julia Roberts), esposa de Larry e objecto de afeição por parte de Dan, é uma talentosa fotógrafa que se apresenta como sendo uma mulher independente e segura da sua personalidade e convicções, mas na realidade não é mais que um joguete nas mãos dos homens, acabando no fim por revelar o seu handicap: a submissão (face a Larry, quer na cena do restaurante, quer no final do filme, ao tapar o marido na cama).

Depois do caos, Alice caminha novamente na rua, mais madura e confiante na sua verdadeira identidade, conseguindo assim sair do perigoso "jogo"... Não, de facto o amor não morou aqui! Estamos perante aquele que é um perfeito filme sobre as relações adultas, radicalmente diferente dos outros modelos românticos propagados por Hollywood. Embora aqui os adultos se comportem muitas vezes como crianças, a verdade é que não se está muito longe da realidade. O filme não esconde a sua célebre origem teatral (da responsabilidade de Patrick Marber, que assina aqui o argumento) e ainda bem que assim é, pois os diálogos ganham uma dimensão (leia-se brutalidade) inesquecível. As interpretações deste quarteto de actores iluminados são perfeitas e cada um consegue descolar-se da sua vincada 'imagem de marca'. Mike Nichols (autor do emblemático The Graduate), soube gerir bem o rumo desta história de encontros, envolvimentos e traições, apostando numa realização serena e repleta de planos verdadeiramente belos que não hesitam em captar a intimidade das suas personagens. Uma nota final para a linda mas perturbadora canção de Damien Rice, The Blower's Daughter, que inicia e finaliza este Closer. Uma obra-prima contemporânea!


Classificação: 5/5

13 comentários:

Betty Coltrane disse...

"I can't take my eyes of you, i can't take my eyes of..." (snif, snif!!!!)

Este filme é um portento. É perfeito. Inesquecível. Soberbo. E mais todos os adjectivos de que se possam lembrar. E visceral... A banda sonora foi aqui aplicada com uma mestria rara. Se não soubéssemos que o álbum do Damien Rice é anterior até se podia pensar que tinha sido feita de propósito.

10/5 para mim! :D

(para além disto tudo, o filme ainda é um regalo para os olhares, femininos e masculinos!! O Clive Owen, ai o Clive Owen!!!!!)

Carlos Pereira disse...

"Embora aqui os adultos se comportem muitas vezes como crianças, a verdade é que não se está muito longe da realidade."

Ora nem mais. Instáveis, contraditórias, repletas de defeitos, aquelas quatro personagens estão magistralmente reais nas suas imperfeições e na inconsciência com que enfrentam a vida.

sonhadora disse...

Larry - o manipulador;
Dan - O frágil;
Anna - independente e ao mesmo tempo submissa;
Alice - Essa nao sei definir;

De todos a minha personagem favorita é a Anna! Independente mas ao mesmo tempo submissa como a maiorida das mulheres que se fazem de fortes e que conquistam na vida profissional mas descuidam e muito a vida privada!

São 4 grandes personagens reunidas no filme!!! Também gostei muito deste filme... é uma espécie de espelho da vida real!

Gostei muito da tua crítica... é das melhores que li até hoje sobre o filme!

Cataclismo Cerebral disse...

Betty: É uma maravilha de filme, de facto! E a banda sonora é igualmente perfeita :)

Carlos: São seres imperfeitos em busca das relações ideiais, se bem que eles não façam grande ideia do que isso seja. Tal como todos nós...

Sonhadora: Obrigado pelo elogio :) Quanto à Alice, creio que ela busca a estabilidade emocional, embora esteja profundamente desencantada e pessimista em relação aos jogos e artimanhas que tal objectivo acarreta. A minha personagem preferida também é a Anna.

Beijos e abraço

Anônimo disse...

acho que se tivesse visto este filme num outro contexto, sózinha, teria absorvido melhor a sua essência. ainda assim é daqueles que marcamm muito muo bom. e a banda sonora é de facto perfeita.

Daniel disse...

Que mais se pode dizer? Uma peça de teatro interessante que foi adaptada ao cinema pelo portentoso Mike Nichols, esse gigante de intelecto genial, e interpretada por uma mão-cheia de óptimos actores - palmas para a Natalie Portman, uma das melhores actrizes que para aí andam! E o Clive Owen também não fica atrás, naquele papel de cabrão manipulador. E o que é que se pode dizer mais? Meus amigos, finalmente, mas finalmente, um filme que retrata a realidade tal como ela é. Na verdade nós somos todos assim. Frágeis, manipuladores, desiludidos com as relações, especialmente as amorosas, submissos e rebeldes, violentos e perversos, visceralmente sexuais e, por vezes, muito infantis. Há finalmente alguém com tomates para mostrar a realidade que é a de todos os dias, que todos ignoram, mas que todos sabem como é. E é por tudo isso que estão de parabéns.

JHB disse...

Pode parecer demasiado frio, se calhar até concordo, mas gosto dele assim, considero-o um grande filme, feito inteiramente pelas grandes prestações dos actores e do realizador sem precisar de mais ajudas. E a música de Damien Rice de certeza que não deixa ninguém indiferente.

Cataclismo Cerebral disse...

Curse: É daqueles filmes que se têm de ver com calma, sem interferências de nenhuma ordem

Daniel: Foi uma excelente transposição para o grande ecrã. Tão real que chega a deprimir...

João: Acho que é a frontalidade e a tal frieza que o tornam um objecto tão sedutor e complexo. Grandes actores, óptimo argumento e uma perfeita realização desse veterano chamado Mike Nichols. E Damien Rice complementa tudo de forma mágica.

Bj e abraços

Daniel disse...

Caro cataclismo, devo-lhe dizer ainda isto: a realidade não deprime, comprime. Há pessoas que aguentam e pessoas que implodem. Por isso é que tanta gente com quem falei não gostou do Closer. E, já agora, não resisto a fazer esta comparação maliciosa: as apresentações do filme faziam parecer que era mais uma treta sentimental e domingueira, o que levou muita gente ao cinema. Mas que belo balde de água fria que essas pessoas devem ter levado!

Cataclismo Cerebral disse...

Concordo absolutamente com essa afirmação, Daniel. Quanto à comparação maliciosa, também sempre achei que muita gente foi ao cinema completamente enganada. O trailer e as promos indiciavam outro tipo de filme que não esta maravilha.

Abraço

Daniel disse...

Caríssimo caríssimo, honra-me demasiado no link da mente em revolução. Vou até deixar de tratá-lo por você. É um prazer andar no carrossel das voltas evolutivas com quem sabe guiar. Obrigado sincero! Abraço.

Daniel disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Cataclismo Cerebral disse...

Ora essa Daniel, o teu blog é muito interessante. E sim, nada de me tratar por você! Obrigado eu, pelas visitas aqui no meu estaminé.

Abraço