segunda-feira, 31 de março de 2008

A (Re)Descobrir...

Bulworth - Candidato em Perigo (1998): Deliciosa sátira política de finais dos anos 90, escrita, interpretada e realizada por Warren Beatty. Beatty é Bulworth, um senador que sofre uma espécie de colapso nervoso logo à beira de umas eleições importantíssimas. O homem não faz a coisa por menos: como não vê a luz ao fundo do túnel, contrata um assassino para o eliminar, não se esquecendo de dar ares de conspiração a toda a tramóia. Mas acontece que essa atitude vertiginosa acaba por lhe conceder um efeito de súbita vontade de viver. Reinventando-se enquanto homem e senador, Bulworth passa a discursar em forma de rap, desmascarando toda e qualquer hipocrisia da cena política americana e dos seus agentes. Bulworth é um filme que até pode pender um pouco para a demagogia, mas o saldo mais que positivo abafa algumas inconsistências. É raro ver algo assim tão frontal, que não receia pôr o dedo nas feridas que todos conhecem, mas que poucos reconhecem (que o tema seja a política é quase um pormenor secundário). Uma obra burlesca, corajosa e com mais profundidade do que aquilo que aparenta.

sexta-feira, 28 de março de 2008

The Tracey Fragments - Os Fragmentos de Tracey (2007)

Confissões de Adolescente

Produção independente canadiana assinada por Bruce McDonald, The Tracey Fragments é um objecto visualmente bizarro que desafia o intelecto (e expectativas) do espectador. A intriga é simples: Tracey Berkowitz, uma adolescente psicologicamente perturbada e proveniente de uma família disfuncional, procura desesperadamente o rasto ao seu irmão mais novo, Sonny, que estava aos seus cuidados. Enrolada numa cortina de casa de banho e refugiada na parte de trás do autocarro, Tracey vai dando conta da sua experiência pessoal (evocando a sua relação atribulada com o seio familiar, com o núcleo escolar e com a intenção amorosa que surge na pele de um colega recém-chegado). Numa deambulação sofrida, Tracey passa por uma transfiguração individual extrema, enquanto tenta lidar com os sentimentos angustiantes que a perseguem.

Misto de tragédia familiar com teen angst, The Tracey Fragments aposta numa irreverência ao nível da estrutura formal que é simplesmente estimulante: o ecrã é fragmentado em múltiplas "janelas" que reinventam os conceitos de tempo e espaço no cinema (algumas janelas estão adiantadas ou atrasadas temporalmente e outras revelam diferentes perspectivas do mesmo décor). Esta condição quase esquizofrénica, que se cola indelevelmente à psique da própria Tracey, desafia ao coser da lógica narrativa, no mesmo modo em que se juntam as peças de um qualquer puzzle para compreender a imagem no seu todo. Mas esta atitude vanguardista de tratamento visual de um filme seria totalmente descabida se por detrás não houvesse uma preocupação em tecer uma narrativa profunda (tanto mais que o tema não prima exactamente pela ligeireza). Nada a temer neste campo. O realizador oferece-nos um retrato subtil, muito triste e eminentemente trágico sobre alguém com uma profunda necessidade de afectos, que busca de forma decidida aquele que ama incondicionalmente, apesar de todo o caos que a rodeia.

Tracey está a anos-luz do modelo de jovem inócuo e anódino que se propaga pela mediocridade televisiva dita para adolescentes; ela tem ilusões, expectativas, sonhos e também muitas desilusões. Ou dito de outro modo: ela tem vida e soa a real, o que é sempre refrescante de se encontrar (já que é tão raro). A escolha para protagonista recaiu sobre esse milagre da nova vaga de jovens actores que é Ellen Page. A actriz é natural do Canadá e o argumento deve-lhe ter parecido uma proposta irrecusável, logo estavam reunidas todas as condições ideais para o avançar do projecto. Ainda para mais, Ellen não receia o chamamento do cinema alternativo, que lhe tem dado grande impulso na construção da sua carreira... Aqui ela perde-se por completo na personagem e é, uma vez mais, assombrosa! Mas isso já seria de esperar, não é?


Classificação: 4/5

quinta-feira, 27 de março de 2008

Amores Proibidos





Atonement - Expiação (2007) e The Cider House Rules - As Regras da Casa (1999)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Cena de Culto...



Love Actually - O Amor Acontece (2003)

terça-feira, 18 de março de 2008

The Machinist - O Maquinista (2004)

De Olhos Bem Abertos

Trevor Reznik é um operário fabril que sofre de uma privação de sono vai para um ano. Essa estranha condição clínica reflecte-se no seu corpo (que apresenta uma estrutura extremamente cadavérica) e na sua mente (que está à beira do colapso). A cinzentona vida de Trevor resume-se a rituais obsessivos e à pura letargia, já que o trabalho parece sugar-lhe toda a existência. Os únicos focos de brilho estão na pele da meiga prostituta com quem ele se encontra e numa simpática empregada de café de aeroporto, com quem Trevor trava uma amizade peculiar. Após um trágico acidente na fábrica, por culpa da distracção de Trevor, todos se começam a virar contra o operário, que afirma estar a ser vítima de uma conspiração muito bem elaborada. A presença de um insinuante colega que só Trevor parece ver também não ajuda muito à resolução do enigma...

The Machinist é o tal filme de culto em que Christian Bale perdeu a capacidade de discernimento juntamente com o peso. Para compor a personagem do operário atormentado, o actor dedicou-se a uma intensiva dieta, recorrendo a uma alimentação paupérrima e evitando o acompanhamento médico especializado. O resultado foi uma inacreditável perda de massa muscular (30 quilos foram à vida...), estabelecendo um novo padrão no que diz respeito aos limites a que se está disposto a ir por amor à arte. Decisões arriscadas à parte, justiça tem de ser feita a Bale, que conseguiu também alterar a sua estrutura emocional, afundando-se na persona (e, especialmente, na psique) de Trevor Reznik. O desempenho do actor é fenomenal, um dos grandes atractivos do filme. The Machinist, uma produção espanhola assinada por Brad Anderson, pode ser descrito como um thriller urbano claustrofóbico, com ambiências densas e opressivas. Evocar David Cronenberg torna-se inevitável, pois a questão da dilaceração do corpo é uma das marcas autorais do cineasta canadiano. O que está em jogo em The Machinist, para além dessa componente física, é o estudo de uma personagem complexa e fascinante, que consegue captar as atenções e decidir o rumo do filme (aliás, a narrativa apoia-se totalmente no seu protagonista, e esse veículo é a solução mais acertada).

Se bem que as ideias criativas não sejam particularmente originais, uma vez que já vimos isto concretizado noutros filmes bem melhores, a verdade é que são empolgantes o suficiente para nos prender à história. Mas o grande trunfo da obra, a par da interpretação, é o tratamento dado ao tema da culpa. Que me lembre, este é dos últimos filmes que melhor soube explorar esta temática, sem necessidade de "rasteiras" lamechas. A culpa surge como um mecanismo inconsciente que abafa a memória e dita a acção e ainda como um fenómeno passível de conduzir à fragmentação física e psicológica, a que se vem juntar o processo de alienação. Não há como fugir à culpa e basta lembrar as cenas em que a personagem de Bale se lava compulsivamente com lixívia para percebermos isso mesmo. Ele bem pode desinfectar o corpo com esse produto, mas para alcançar a purificação interior não há lixívia que lhe valha... Destaque para as presenças de Jennifer Jason Leigh e Aitana Sánchez-Gijón.


Classificação: 3,5/5

sexta-feira, 14 de março de 2008

L'Auberge Espagnole - A Residência Espanhola (2002)

Geração Desenrascada

Xavier, um jovem estudante francês, decide partir para Barcelona ao abrigo do programa universitário Erasmus. Uma vez lá chegado, rapidamente encontra um "ninho" numa residência recheada de estudantes de diversas origens. A estadia é de um ano e durante esse período de tempo Xavier toma plena consciência da dimensão europeia e do caos que é planear o futuro num mundo de múltiplas possibilidades. Pelo meio, entra em desavenças com a namorada Martine, envolve-se com uma bela mulher casada e cria amizades inesquecíveis com os colegas e companheiros de casa.

Retrato sentido de um novo tipo de juventude, L'Auberge Espagnole é um interessante filme de Cédric Klapisch que conquistou a simpatia um pouco por todo o lado onde estreou. Em Portugal a recepção foi entusiástica, tendo sido agraciado com os parabéns da crítica e com a adesão do público, gerando até alguma surpresa (trata-se de um filme de orçamento modesto, europeu e sem grandes nomes no elenco, daí que tenha sido algo surpreendente o seu sucesso). Mas fora esta trivialidade, o facto é que este título tem realmente a qualidade a seu favor. Considerado por muitos o filme-estandarte do programa Erasmus, L'Auberge Espagnole propõe uma perspectiva desempoeirada sobre a multiculturalidade presente na Europa contemporânea, Europa esta que incorpora um sólido sistema ideológico e que exalta os valores de toda uma nova geração predisposta ao alargamento das fronteiras físicas e mentais. Ao mesmo passo, evita ser tendencioso/panfletário: não só apresenta o lado "solarengo" como também denuncia os aspectos menos estimulantes de todo o processo (exemplo: burocracia).

Klapisch contorna os caminhos da caricatura boçal, fugindo assim aos estereótipos que se poderiam facilmente associar a cada uma das nacionalidades representadas. Outro triunfo a apontar está no argumento hábil, que consegue abraçar uma visão irónica e não condescendente da juventude estudantil (aqui não há qualquer margem para facilitismos dessa ordem). O recurso ao vídeo digital enfatiza a cor, o dinamismo e a energia formal, indo na linha da composição dramática das próprias personagens. Se existe uma fraqueza a apontar, essa está relacionada com o facto do filme nem sempre ser expedito nos seus propósitos, quebrando o ritmo em algumas partes algo dispensáveis.

Mas verdade seja dita, o todo é extremamente compensador, engraçado e até comovente. Saúde-se o realizador e o radioso elenco (esta foi a fita que ajudou a carreira de Romain Duris e que confirmou o doce estatuto de Audrey Tautou) pela criação de um tão estimável "filme de culto europeu", que não receia assumir a sua faceta mais sentimental. Existe uma sequela que dá pelo nome de "Les Poupées Russes - As Bonecas Russas".



Classificação: 3,5/5

terça-feira, 11 de março de 2008

Críticas à Pressão...



- Proof - Entre o Génio e a Loucura: 3/5

- Cop Land - Zona Exclusiva: 2/5

- Moonlight Mile - Sonhos Desfeitos: 3/5

segunda-feira, 10 de março de 2008

Once (2007)

Conta Comigo

Once é um daqueles pequenos grandes filmes com uma alma tão vibrante que nos conquistam sem estarmos à espera. Aplaudido pela crítica, este projecto forjado no seio independente e realizado por John Carney adquiriu o estatuto de culto instantâneo e, de facto, merece-o na sua totalidade. O filme foi uma das grandes surpresas do ano na cerimónia dos Óscares, ao vencer na categoria de melhor canção original com o tema Falling Slowly (as estatuetas foram entregues aos compositores e intérpretes, Glen Hansard e Markéta Irglová, que são também o par protagonista da fita).

Once é um conto urbano e contemporâneo que revisita a matriz do musical, renegando a habitual componente onírica e espectacular desse universo. Sem recorrer a artifícios decorativistas e de realização, Carney leva o seu filme para o domínio do realismo, criando uma espécie de "musical de rua" habitado por pessoas comuns, que padecem dos problemas do quotidiano. O argumento baseia-se na visão realista e esperançosa de duas pessoas (das quais nunca ficamos a saber o nome) que encontram um elo em comum: a paixão pela música. Ele é um trintão que toca e canta nas ruas de Dublin por umas simples esmolas, acalentando o desejo de assinar um contrato discográfico; ela é uma emigrante checa, divorciada e mãe de uma menina, que se exprime através do piano e das cantorias. Entre eles nasce uma amizade muito especial, em que a música é a figura principal, com poder suficiente para fazer com que estas almas gémeas alimentem a esperança mútua e ultrapassem algumas agruras da vida.

A crueza da realização confere ao filme uma nota de voyeurismo muito convincente, sem que isto signifique que impere a banalidade emocional. Na verdade, o par central é composto por não-actores, mas isso não se pressente no filme, tanto mais que ambos se entregam honestamente aos seus papéis. O que resulta é uma química intensa que não perde nada na comparação com o trabalho de actores bem experientes. Para além disto, a banda-sonora que atravessa Once é um mimo viciante, que dá vontade de ir a correr comprar o disco. Compensando os poucos diálogos, as músicas destacam-se pela excelente qualidade das letras e pela transparência com que fazem sobressair as belas vozes que as interpretam.

Como quem não quer a coisa, surge assim um musical que realmente reinventa o género, primando pela simplicidade e dando um brilho especial a pessoas com quem já nos cruzámos de certeza. Basta ir na rua e abrir os olhos. Melhor: basta abrir o coração e deixar a música fluir.


Classificação: 4/5

sexta-feira, 7 de março de 2008

Fim-de-Semana...



- A Guerra Das Rosas, Sábado, Hollywood, 17h00;

- Mr. and Mrs. Smith, Sábado, TVI, 17h40;

- Um Longo Domingo de Noivado, Sábado, RTP2, 23h35.

quinta-feira, 6 de março de 2008

A (Re)Descobrir...


Tigerland - Teste Final (2000):"Tigerland" é uma das últimas grandes obras do irregular realizador Joel Schumacher (autor de Batman e Robin, Tempo de Matar e Cabine Telefónica). Trata-se de uma produção de baixo orçamento que reflecte sobre um tema já muito focado pela indústria cinematográfica norte-americana, mas que mesmo assim consegue incutir-lhe outra roupagem. Contando com um elenco jovem e algo desconhecido na altura (este é um dos primeiros trabalhos de representação de Colin Farrell), Schumacher ensaia o desespero e a angústia de um grupo de jovens que tem de estar disponível para um universo que não lhes é totalmente perceptível: a guerra no Vietname. O título do filme está relacionado com um campo de treino onde esses soldados americanos podem encontrar um reflexo geográfico daquele que irão presenciar nas florestas vietnamitas. Com bons desempenhos e uma fotografia sufocante, "Tigerland" torna-se uma proposta irrecusável para quem aprecia diferentes perspectivas sobre a mesma temática. Cá foi lançado directamente em DVD...

quarta-feira, 5 de março de 2008

The Nanny Diaries - Diário de Uma Nanny (2007)

Uma Ama à beira de um ataque de nervos...

Depois do sucesso crítico alcançado com o excelente "American Splendor", a dupla Shari Springer Berman e Robert Pulcini atirou-se de cabeça para um projecto de cariz adolescente, que mistura desequilibradamente a comédia satírica com o melodrama light. A base foi a obra de Emma McLaughlin e Nicola Kraus e o resultado é "The Nanny Diaries", que apresenta uma Scarlett Johansson fresca e dinâmica decidida a provar que consegue demonstrar o seu talento em vários registos. A actriz interpreta Annie Braddock, uma recém-licenciada apaixonada por antropologia que aceita um trabalho como baby-sitter para uma família abastada da implacável sociedade nova-iorquina (família que ela deliciosamente denomina de "X's"). Inicialmente, Annie assume o seu trabalho como um estudo científico, que lhe permite analisar pessoas, rituais e ambientes. Mas ao ser conquistada pelo petiz aos seus cuidados, Annie deixa-se absorver pelo seu exigente cargo, permitindo os mais variados abusos por parte do Casal "X". "The Nanny Diaries" surge na senda do famoso "O Diabo Veste Prada", sendo quase uma cópia desse fraco filme. Vejamos as semelhanças: rapariga culta e desempoeirada consegue emprego num meio supostamente glamouroso, radicalmente diferente do seu ambiente natural. Enquanto sua as estopinhas para cumprir as suas funções, atura uma patroa tirânica e egocêntrica e vai perdendo contacto com familiares e amigos. Tiro e queda! Mas mesmo assim, faço justiça a "The Nanny Diaries" por possuir um charme próprio que nos conquista sem estarmos à espera. O filme começa muito bem, com soluções criativas originais que apelam aos terrenos da fábula. O aplicar da observação antropológica ao universo cosmopolita da protagonista então é um achado certeiro. É pena é que essa criatividade não dure muito tempo, pois à medida que a narrativa se desenrola o encanto vai-se esfumando. O filme sabe que está a andar sobre clichés e o curioso é que parece não se querer importar com esse facto. Aliado a isto está a indecisão na escolha do tom: não se percebe bem se o objectivo é ser uma sátira ou um melodrama. Para sátira falta-lhe acidez; para melodrama não é muito inventivo (chegando até a ser lamechas). Contas feitas, fica-se com um filme doce e modesto, que contém algumas boas cenas, a entrega jovial de Johansson e uma bela homenagem à eterna rainha das amas: Mary Poppins. Mas esperava-se mais do par que nos deu "American Splendor"...


Classificação: 2/5

terça-feira, 4 de março de 2008

O Bom, o Razoável e o Mau: Filmes Realizados Por Oliver Stone



O Bom: Natural Born Killers - Assassinos Natos (1994)


O Razoável: The Doors - O Mito De Uma Geração (1991)


O Mau: Alexander - Alexandre, o Grande (2004)


segunda-feira, 3 de março de 2008

TOP 5 Meryl Streep

1) The Bridges Of Madison County - As Pontes de Madison County (1995)


2) Sophie's Choice - A Escolha De Sofia (1982)

3) Out Of Africa - África Minha (1985)

4) The Hours - As Horas (2002)


5) Kramer Vs Kramer - Kramer Contra Kramer (1979)

É difícil fazer um TOP 5 desta actriz fabulosa...