quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Caché - Nada a Esconder (2005)

Família, Mentiras e Vídeo

Que Michael Haneke é um dos mais geniais autores no activo não há dúvidas disso. Que Caché divide as opiniões de forma incisiva também parece-me que não. Vencedor do prémio de realização em Cannes, o filme tem sido alvo de diversas leituras, já que a sua sinuosa construção e o final aparentemente em aberto levam a essa possibilidade. De facto, a filmografia do autor é conhecida por permitir uma pluralidade de interpretações; a dimensão eminentemente pessoal dos seus projectos traduz-se em obras que só são perceptíveis na sua totalidade apenas por quem se der ao esforço de as desconstruir. Mais: a crueldade da câmera do realizador, inquietante e serena na mesma medida, tornam-no uma das faces mais originais do cinema europeu contemporâneo.

Caché é um conto intrigante sobre um casal (Georges e Anne), que subitamente vê a sua existência perturbada pela recepção de vídeos cujas imagens captam o seu quotidiano. Em simultâneo, começam também a surgir desenhos macabros de difícil interpretação. Sentindo-se um joguete nas mãos do anónimo que os observa, o casal começa aos poucos a se desintegrar, deixando vir ao de cima as fragilidades que estão na base da relação. Aliados a esta tragédia pessoal estão os traumas de infância de George, que o voltam a assombrar e que poderão muito bem estar relacionados com toda esta situação enigmática...

O filme é exímio na sua dedicada descrição dos efeitos da culpa e da repressão, enquanto se cerca dos fantasmas que habitam as feridas interiores de uma França com fortes políticas de segregação racial e ávida de redimir o mal de outrora. Aos poucos, Haneke parte do retrato de uma intimidade familiar com intensos problemas de comunicação para traçar um cenário oblíquo da identidade de um país que vive amargurado com as acções do seu passado recente. Assim, chegando à raíz do argumento, Caché mostra as suas verdadeiras guelras, revelando o seu forte subtexto político (que entra em conflito directo com o drama vivido pelas personagens). Haneke tem uma habilidade característica para mexer os cordelinhos das expectativas do espectador (basta reportarmo-nos a Funny Games, que continua a ser o exemplo máximo desta capacidade) e, nessa medida, Caché não foge à regra. O jogo mental começa logo ao início, quando afinal o que estamos a ver não é um acontecimento actual mas sim as imagens de uma gravação. O poder ilusório das imagens, que se alastra na sociedade actual, é algo que perpassa o filme e com uma nota bastante curiosa: há alturas em que não sabemos se determinados cenários estão a ser observados pelos olhos de alguma das personagens ou se são fruto de mais uma gravação de vídeo.

Mais importante do que descobrir a identidade do remetente é analisar o impacto que essa "presença" provocadora despoleta num seio familiar, onde a comunicação parece ser um elemento em desuso e onde a psique de cada um está sempre em análise. O realizador orquestra todas as peças no seu reconhecido modo de "perfeccionista dos pormenores", sem descurar o seu registo clínico e austero (onde a mais brutal e perturbante das imagens é sempre captada com a mais natural das serenidades). Não seria de esperar outro método por parte de Haneke, ele que cada vez mais se posiciona como uma das figuras máximas da arte do voyeurismo perverso, onde as convulsões afectivas atingem píncaros inolvidáveis...

Este não é de todo um filme fácil; tem uma atmosfera densa, complexa e algo derivativa. Além disso, pede muito esforço no coser da lógica da narrativa e parece que não dá resposta às inúmeras questões que levanta. Mas isso é puro engano: basta esperar até ao final para que tudo bata certo. Por isso aqui fica o conselho: olhos bem abertos mesmo até ao fim!


Classificação: 4/5

8 comentários:

Carlos M. Reis disse...

Caro CC,
Precisava do teu e-mail o mais rápido possível ;)

Red Dust disse...

Espero, então, que seja de estar de olhos bem abertos.

Tenho-o gravado em DVD, à espera de oportunidade para o ver.

Unknown disse...

Haneke é simplesmente um dos melhores cineastas de autor europeus da actualdiade.

Pedrita disse...

esse filme é maravilhoso. beijos, pedrita

Cataclismo Cerebral disse...

Red Dust: Aconselho-te é a esperares pela mood certa. Este filme é muito metódico, exige uma grande dose de entrega do espectador...

Haneke: Concordo. O seu trabalho é excepcional!

Pedrita: Pois é, muito bom mesmo :)

Abraços e beijo!

Anônimo disse...

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