segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

In The Valley Of Elah - No Vale De Elah (2007)

A Verdade Escondida

Os recentes filmes sobre a estratégia militar norte-americana têm-se pautado por uma inteligência fora de série, conseguindo escapar aos terrenos banais do mero panfleto e ilustrando a dimensão humana nas suas mais variadas facetas. O novo filme do realizador e argumentista Paul Haggis (que se está a revelar uma força imparável no seio da indústria cinematográfica de Hollywood) é um bom exemplo da tentativa de reinvenção do cinema político que singrou na década de 70. Este drama intimista relata a inquietação de um casal que desconhece o paradeiro do filho, um jovem soldado chamado Mike Deerfield, que esteve em missão no Iraque e que entretanto regressou aos EUA. Após a junta militar de Mike lhe atribuir o estatuto de desertor, o seu pai, um militar na reforma, intervém e parte em busca dele, contando apenas com a ajuda de umas enigmáticas imagens de telemóvel captadas em terreno iraquiano e com o apoio de uma detective da polícia, Emily Sanders.

Em vez de ir para o local de guerra filmar os traumas in loco, Haggis concentra a sua atenção nas consequências que tal contexto cria nos seus intervenientes directos e, acima de tudo, indirectos. Acontece que "In the Valley Of Elah" destaca-se de outros filmes desta índole pelo facto de estar mais preocupado em captar as tragédias pessoais que ocorrem fora da esfera de acção previsível, ou seja, o cenário iraquiano. Na verdade, a lente do realizador incide sobre o casal Deerfield e Emily Sanders, os elementos que a passo e passo vão descobrindo os fantasmas de uma guerra que está longe de atingir o ponto do cachimbo da paz . O filme é muito perspicaz na forma como vai extravasando universos: começa-se a gerar na intimidade do núcleo familiar, rapidamente passa para o meio militar, depois alcança o painel de guerra no Iraque e finalmente retrata a actual mentalidade reinante nos EUA, aliando a toda esta metamorfose a questão da desumanização/humanização e a passagem biblíca que contempla David e Golias (que é um dos seus temas centrais).

"In the Valley Of Elah" é corajoso e sóbrio, não receando demonstrar o caos que se tornou a política de intervenção externa de George Bush e, nesse sentido, é uma obra que faz um resumo do trabalho do ainda Presidente. Uma das forças fundamentais para o sucesso do filme está no talento dos actores, excelentes nos tempos dramáticos e formando um todo bastante coeso que renega o choradinho. Temos então Tommy Lee Jones, magnífico na pele de ex-militar e pai rígido que ultrapassa tudo e todos de cabeça erguida, mas deixando escapar a mágoa, a culpa e a exaltação interior que o incomodam; Susan Sarandon fabulosa como sempre, com os seus olhos expressivos a revelar um mundo de dor que não lhe é novo; e ainda o poder vital de Charlize Theron, no papel da oposição a um sistema dominante e na representação ideal das mães dos novos filhos da América.

Claramente um objecto anti-guerra, não se pode dizer no entanto que "In The Valley Of Elah" seja anti-americano. Longe disso. Repare-se então no poder simbólico da bandeira americana ao contrário: o que está ali é a expressão do amor a um país que enfrenta um forte conflito de ideais e que precisa urgentemente de "ajuda". Confesso que não encontro visão mais política e redentora do que esta.


Classificação: 4/5

3 comentários:

Luís A. disse...

Foi um filme que também apreciei bastante devido à justeza e inteligência da escrita e da realização de haggis. Só a charlize é que está um pouco a mais e a susan está pouco a menos. de resto é um bom filme que faz pensar e sentir...
abraço cinéfilo

Nia disse...

Elaaaahhh (trocadilho amarelo ;)
as críticas são óptimas, mesmo apesar de evitar lê-las antes de ver o dito filme

Saudações cinéfilas
Nia

Anônimo disse...

tu já foste ver isto!?!? não perdes tempo hein? :D

por acaso gostava imenso de ir ver este filme. este e mais uns quantos...