sexta-feira, 28 de março de 2008

The Tracey Fragments - Os Fragmentos de Tracey (2007)

Confissões de Adolescente

Produção independente canadiana assinada por Bruce McDonald, The Tracey Fragments é um objecto visualmente bizarro que desafia o intelecto (e expectativas) do espectador. A intriga é simples: Tracey Berkowitz, uma adolescente psicologicamente perturbada e proveniente de uma família disfuncional, procura desesperadamente o rasto ao seu irmão mais novo, Sonny, que estava aos seus cuidados. Enrolada numa cortina de casa de banho e refugiada na parte de trás do autocarro, Tracey vai dando conta da sua experiência pessoal (evocando a sua relação atribulada com o seio familiar, com o núcleo escolar e com a intenção amorosa que surge na pele de um colega recém-chegado). Numa deambulação sofrida, Tracey passa por uma transfiguração individual extrema, enquanto tenta lidar com os sentimentos angustiantes que a perseguem.

Misto de tragédia familiar com teen angst, The Tracey Fragments aposta numa irreverência ao nível da estrutura formal que é simplesmente estimulante: o ecrã é fragmentado em múltiplas "janelas" que reinventam os conceitos de tempo e espaço no cinema (algumas janelas estão adiantadas ou atrasadas temporalmente e outras revelam diferentes perspectivas do mesmo décor). Esta condição quase esquizofrénica, que se cola indelevelmente à psique da própria Tracey, desafia ao coser da lógica narrativa, no mesmo modo em que se juntam as peças de um qualquer puzzle para compreender a imagem no seu todo. Mas esta atitude vanguardista de tratamento visual de um filme seria totalmente descabida se por detrás não houvesse uma preocupação em tecer uma narrativa profunda (tanto mais que o tema não prima exactamente pela ligeireza). Nada a temer neste campo. O realizador oferece-nos um retrato subtil, muito triste e eminentemente trágico sobre alguém com uma profunda necessidade de afectos, que busca de forma decidida aquele que ama incondicionalmente, apesar de todo o caos que a rodeia.

Tracey está a anos-luz do modelo de jovem inócuo e anódino que se propaga pela mediocridade televisiva dita para adolescentes; ela tem ilusões, expectativas, sonhos e também muitas desilusões. Ou dito de outro modo: ela tem vida e soa a real, o que é sempre refrescante de se encontrar (já que é tão raro). A escolha para protagonista recaiu sobre esse milagre da nova vaga de jovens actores que é Ellen Page. A actriz é natural do Canadá e o argumento deve-lhe ter parecido uma proposta irrecusável, logo estavam reunidas todas as condições ideais para o avançar do projecto. Ainda para mais, Ellen não receia o chamamento do cinema alternativo, que lhe tem dado grande impulso na construção da sua carreira... Aqui ela perde-se por completo na personagem e é, uma vez mais, assombrosa! Mas isso já seria de esperar, não é?


Classificação: 4/5

28 comentários:

Anônimo disse...

quero tanto ir ver!!!!


ja tenho saudades tuas oh cataclismo! :)

O Narrador Subjectivo disse...

Parece interessante. Ellen Page foi uma revelação em Juno.

PS: gosto do teu blog, tenho um link no meu para aqui, se quiseres retribuir e pôr um link para o meu blog, gostava imenso. Dá uma olhadela, contacta-me, se quiseres :)

Hugo disse...

A sinopse parece bem interessante, gosto de filmes com temas que fogem do lugar comum.
Este filme ainda não foi lançado aqui no Brasil.

Abraço

Anônimo disse...

um filme que até entao nem sabia que existia. como tenho certa simpatia por cinema independente, tem tudo para me ganhar!

Anônimo disse...

Gostei da realização e, claro, da Ellen, mas ao contrário de ti acho o argumento fraco, ainda que a construção da narrativa tente disfarçá-lo. Gostava de ter gostado mais.

Maria del Sol disse...

A Ellen Page está em alta. Fiquei muito curiosa, não sabia que também contava na filmografia desta jovem revelação.

E fazendo minhas as palavras da Curse, também já tinha saudades tuas. :)

José Quintela Soares disse...

Promete!

P.R disse...

Ora aí está um filme que quero muito ver! E a julgar pela tua crítica está ai uma belissima pelicula! A confirmar brevemente!

Um abraço

Anônimo disse...

Devo dizer que não concordo com algumas partes da crítica; Tracey soa a real, sim, mas todo o seu contexto é tão exagerado que mais parece um Kafka involuntário em algumas sequências e demasiado forçado noutras. E achei o estilo visual bastante desnecessário. Reconheço-lhe todo o potencial e dou valor à tentativa, mas senti que todo o filme se apoia nesta caracteristica para se destacar dos demais, e isso não é suficiente. Aliás, achei que o enredo tinha sido escrito com o propósito de se poder adaptar ao estilo visual que o realizador desejava, o que não augura nada de bom para os lados da narrativa... No entanto vale, sem dúvida, por Ellen Page, que está absolutamente brilhante. Precisamente como era esperado.

Um abraço

Cataclismo Cerebral disse...

Curse: Vê, aconselho bastante! Também tenho saudades tuas e do people, espero que estejam bem :)

Passenger: A Ellen parece saber o que faz. Espero que não se "perca". Já te adicionei!

Hugo: É também o tipo de filme que me costuma fascinar. É um filme com uma distribuição complicada, é muito underground...

Isabela: Passa muito despercebido, isso é um facto e uma pena. Mas merece todos os olhares.

Gonn1000: Achei o argumento sólido e bem reflectido na opção formal; aliás, aquilo que vemos é a materialização da própria condição mental da Tracey. Considero o conceito fascinante...

Maria: A "miúda" surpreende-nos e a sua carreira está aí em força! Espero que te encontres bem :)

José: Foi uma boa surpresa! Desencanta-me é alguma da preguiça jornalística face ao filme...

P.R.: Espero não estar a criar expectativas muito altas. É que este é daqueles que não gera consensos!

Mgallo: Percebo o queres dizer, mas não concordo. Achei que o estilo formal serviu a narrativa e não o contrário. O filme consegue ser austero, milimétrico, cerebral e emotivo e a opção de realização está na linha de todas essas nuances. No fim de contas, a "confusão" que presenciamos é o reflexo do caos interno da protagonista, sem que nunca haja o risco de se descair para o pretensiosismo ou para o vazio de substância. Este passo, arriscado sem dúvida, colheu bons resultados. Acho que houve muito cuidado no sentido de contar uma boa história que se apoia num visual atípico.

Abraços

Anônimo disse...

Eu começo a estar um pouco apreensivo, quanto a filmes com a Ellen Page. Se adorei Hard Candy, o mesmo não posso dizer de Juno. E com toda a euforia em volta deste ultimo que mais não me pareceu que banal, embora um banal de qualidade, já torço o nariz, para este tipo de filmes... o que é muito mau sinal! Mas darei uma oportunidade! Um abraço!

Anônimo disse...

Ah, já me esquecia, este chamamento de filmes alternativos, não é novo e pelos vistos, tem cada vez mais sido o chamamento de todos os novos actores... Scarlett Johansson, etc, etc!

Cataclismo Cerebral disse...

Ricardo: O que importa é que não desistas de dar oportunidades. Os cinéfilos são assim: por muitos trambolhões cinematográficos com que se deparem, estão sempre de mente aberta para novas oportunidades... Sim, o chamamento dos filmes alternativos não é novo, e tem recebido uma grande adesão por parte dos novos actores. A Ellen parece ter aprendido bem esta lição!

Abraço

Anônimo disse...

Estou bastante curioso quanto a este filme!

Gooffy007 disse...

Este Tracey Fragments é uma experiência muito interessante, no entanto é importante ter presente que ao entrar na salinha escura é preciso estar preparado para um envolvimento muito diferente daquele que estamos habituados numa normal ida ao cinema passiva.

Cataclismo Cerebral disse...

The Nader: Atira-te ao filme, pode ser que corresponda às tuas expectativas :)

Gooffy007: A sinopse do filme indica isso mesmo. Não é um filme para o qual se deva ir de ânimo leve... É uma experiência intensa.

Abraços!

Anônimo disse...

Desculpe o incomodo, mais jah tem data prevista p/ estrear por aki??? Abraços!!!

Cataclismo Cerebral disse...

Não incomoda nada... O filme já estreou em Portugal há algumas semanas. Sei que a distribuição esteve longe de ser ampla, por isso deve ser um filme difícil de encontrar nas salas. Mas aconselho uma busca na nternet para averiguar a situação.

Abraço

-Sarks- disse...

Estava procurando resenhas e comentários sobre esse filme. Eis que me deparo com esse blog. O que mais me impressionou foi a similaridade de escrita e estética que este tem com o meu blog...
Gostaria de manter contato com sua pessoa e gostaria de que desse uma olhada no meu blog http://criticacinemaeafins.blogspot.com/
para trocarmos algumas figurinhas.
Abraços
Alan Caetano Afonso
obs: espero respostas

dianamatias disse...

É, sem dúvida, um filme que não irei perder. Ellen Page consegue dar-nos os ingredientes em quantidade exacta, sempre. É de louvar o seu desempenho em Hard Candy e no delicioso Juno :)

Anônimo disse...

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