terça-feira, 30 de outubro de 2007

Fur - Um Retrato Imaginário De Diane Arbus (2006)


Diane No País Das Maravilhas

Fur é uma pequena grande pérola cinematográfica, que estreou cá no início de 2007, mas que foi sentenciada à indiferença. O filme baseia-se na mítica Diane Arbus, esposa e mãe de duas crianças, cuja vida aparentemente desafogada e calma anseia por um verdadeiro golpe de asa. Diane ocupa o seu tempo na assistência profissional ao seu marido, um fotógrafo muito requisitado, mas isso só lhe parece trazer mais angústias. À superfície tudo parece ser pacífico, mas no interior Diane espera por uma revolução na sua alma e pela libertação do seu espírito criativo. A letargia existencial que a domina é aplacada pela chegada de um misterioso vizinho, que fará com que a jovem mulher saia do seu limbo auto-imposto. Esse recém-chegado conduzirá Diane numa viagem de descoberta de um tipo de fotografia alternativa, bem como de um universo surreal onde habitam personagens atípicas, mas fascinantes.

O realizador Steven Shainberg, que anteriormente nos tinha presenteado com The Secretary, não acompanha o estilo de um biopic rigoroso, em que se destacam os episódios mais marcantes da vida e carreira dos visados. Como o título indica, este projecto trata-se de "Um Retrato Imaginário...", em que se cruzam elementos reais com a mais pura ficção, de forma a tentar captar a essência anímica daquela personalidade marcante do século XX. O filme é excelso na sua capacidade de mesclar o maravilhoso e o encantatório com a realidade do despertar artístico de Diane, desaguando numa biografia intensa e quase feérica. Quem conhece os moldes dos biopics reconhece que essa opção de representar os primórdios da arte de Diane em vez de se debruçar sobre o impacto mundial do seu trabalho constituiu um risco, mas essa foi definitivamente a solução mais sofisticada e original.

Embora nunca se chegue a ver nenhuma das suas fotografias, sabemos o que esteve na génese desse resultado tão interessante. Assim, a importância do espectador não é subestimada, já que a este é dada a hipótese de formular a sua própria opinião sobre as motivações da artista. Fur é pois uma fábula contemporânea muito sedutora, com uma frescura a fazer lembrar Alice No País das Maravilhas, e com uma banda-sonora que reforça a ideia desse imaginário. O tratamento estilístico é digno de um filme arty (mas sem ser pretensioso) e presta a devida homenagem a uma mulher que soube quebrar os limites socio-culturais da época com a sua abordagem original à arte. Nicole Kidman e Robert Downey Jr. são fabulosos...


Classificação: 4/5

3 comentários:

Betty Coltrane disse...

WOW!! Adorei!! Quero ver!!!

E AMO o poster.... ;P


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Maria del Sol disse...

Gostei muito do filme quando o vi no cimena, tanto do ponto de vista da estética escolhida para abordar o universo arbusiano, como dos desempenhos de Nicole Kidman e Robert Downey Junior.
Porém, uns meses depois tive uma cadeira de Fotografia na faculdade, onde voltei a estudar a obra de Arbus, e cujo professor se mostrava desiludido com a escassa profundidade deste biopic.

Acho que tenho de voltar a vê-lo para reformular a minha opinião, por isso esta é mesmo uma óptima sugestão ;)

Beijinhos!

Cataclismo Cerebral disse...

Betty: Acho que vais gostar do filme, é muito original e contra-corrente.

Maria: Eu achei o filme profundo, até porque retrata o íntimo de uma mulher (relembro que existe inspiração em Arbus, mas aqui trata-se de um retrato imaginário) que apenas quer expressar a sua arte e as suas paixões. Mas já se sabe que cada cabeça, sua sentença...

Bjs