
Até sempre...
Classificação: 1/5
Dee Wallace Stone em E.T. - O Extra-Terrestre (1982)
Frances O'Connor em A.I. - Inteligência Artificial (2001)
Já no caso do Pai, o cenário não é tão estimulante. A figura paterna surge quase sempre como um ser ausente, física (Terminal de Aeroporto) ou simbolicamente (Hook). A excepção parece residir na personagem de Tom Cruise em Minority Report - Relatório Minoritário (2002).
Exemplos:
Christopher Walken em Catch Me If You Can - Apanha-me se Puderes (2002)
Tom Cruise em War Of the Worlds - Guerra dos Mundos (2005)
Natural Born Killers - Assassinos Natos (1994), de Oliver Stone. A obra-prima de Oliver Stone, que lança uma contundente crítica ao modus operandi dos mass media e ao fascínio desenfreado por todo e qualquer tipo de "estrelas", roda na TVI, no Domingo, às 00h45.
Fascinante pérola existencialista dos anos 90, injustamente subvalorizada e esquecida. Jim Jarmusch celebra em Dead Man a revisitação do género querido do cinema clássico americano: o Western. Só que em vez de se contentar com a transposição dos códigos narrativos inatos a esse género e com o mero decalque da sua simplista atitude formal, Jarmusch reinventa-o e apresenta-nos um Western pós-moderno absorto numa metafísica arrebatadora, em simbologias desconcertantes e num acérrimo desencanto filosófico .
Filmado num belíssimo preto e branco (da responsabilidade de Robert Müller), Dead Man relata o árduo percurso físico, emocional e espiritual do jovem William Blake que, na segunda metade do século XIX, se dirige para a cidade de Machine em busca de um emprego como contabilista numa muito conhecida fábrica metalúrgica. Uma vez lá chegado, é maltratado pelo director daquela empresa familiar e posto na rua sem qualquer tipo de decoro. Ao errar pela pequena cidade "doentia", Blake trava conhecimento com uma afável ex-prostituta, com quem acaba por passar a noite. Mas o ex-amante da rapariga aparece e, num acesso de fúria, dispara mortalmente sobre ela, acabando por ferir também Blake. Este reage, abate o homem e foge sem destino. Às portas da morte e contando apenas com a ajuda de um índio (que alerta o contabilista para o facto de partilhar o nome com o famoso poeta visionário), Blake fica a saber que o homem que matou é o filho do empresário que o rejeitou, e que este mandou três assassinos no seu encalço...
Dead Man é uma galvanizante parábola sobre a Morte e uma carta de pessimismo em relação ao Homem e às suas acções inconsequentes. O filme tem um argumento tão rico que permite as mais estimulantes leituras: pode ser visto como o salutar encontro de um homem com a sua espiritualidade, a necessidade de fugir de contextos conspurcados (neste caso, a cidade) e alcançar a transcendência individual num qualquer lugar mais "puro", o agarrar a vida mesmo quando esta teima em nos escapar, ... Esta complexidade de interpretações torna Dead Man num objecto lírico irrepreensível, que foge aos lugares-comuns quer do cinema de massas, quer do dito cinema independente (que também os tem, é preciso dizer). Jim Jarmusch consegue aqui uma fita de inegável beleza etérea que encerra um paradoxo algo redundante, mas intenso: é no processo da morte certa que Blake saboreia como nunca a vida que lhe passou ao lado.
A composição musical de Neil Young é um pouco questionável, mas a verdade é que ajuda a acentuar o clima de estranheza veiculado pelo filme e confere-lhe uma identidade muito própria. Dead Man pode não ser consensual, mas quando alcança o nosso âmago, torna-se automaticamente uma referência do bom cinema arty dos anos 90.
Classificação: 4/5
Speed Racer recupera a popular série de anime japonesa de finais dos anos 60, que teve a sua origem numa igualmente famosa banda-desenhada. Speed Racer é o nome de um jovem ás do volante, destinado a saborear a vida em alta velocidade no seu carro Mach 5 e nas mais diversas competições. A prática deste desporto automobilístico não se esgota apenas em Speed; alastra-se também à sua família, que igualmente vibra com as correrias e até gere um negócio nesse meio. Mas a tragédia já bateu um dia à porta dos Racer: o filho primogénito, o célebre Rex Racer, perdeu a vida num trágico acidente.
Sentindo que deve homenagear os feitos do irmão e manter-se unido à estrutura familiar que tanto preza, Speed recusa assinar um lucrativo contrato com a Royalton Industries, uma poderosa e malévola organização. Essa decisão não é bem acolhida pelo demoníaco proprietário da empresa, que jura prejudicar a carreira de Speed. Para salvar o sustento da família e dignificar o desporto que o apaixona, o jovem talento alia-se a um enigmático corredor - o Racer X - e enfrenta a Royalton no seu próprio campo de batalha, ou seja, o local de competições que ceifou a vida do seu irmão...
Mais do que um filme, Speed Racer é um produto descartável, uma autêntica inanidade de ideias e criado somente para o gáudio dos próprios irmãos Wachowski. É como aquela espécie de private joke à qual ninguém deveria ter acesso, mas que infelizmente todos acabam por saber. O argumento é para lá de paupérrimo (os diálogos são sofríveis, existe uma atitude claramente anti-empresarial que nunca chega a ser bem explorada e a inevitável moral delicodoce da importância da força familiar) e as cenas de acção, certamente um atractivo para muita gente, resultam enjoativas até mais não. A estética completamente artificial anula qualquer possibilidade de envolvimento.
Não há aqui qualquer noção de plano, vertigem, ameaça ou incómodo; assistimos apenas a um pueril desfile de imagens hi-tech alucinadas (com uma paleta de cores garridas que quase ferem as órbitas e com um tom marcadamente pop) que parecem saídas de um jogo de pinball on acid. Este é mais um caso em que se confunde uma rápida sucessão de imagens ruidosas com intensidade emocional e onde o aborrecimento de morte se torna uma presença inevitável. Nem no patamar das interpretações Speed Racer encontra a salvação: gente tão ilustre como Susan Sarandon, John Goodman, Christina Ricci e a estrela em ascensão Emile Hirsch (recém-saído do fabuloso Into The Wild, de Sean Penn) não fazem jus ao seu imenso talento e parecem algo perdidos nesta nulidade em forma de filme.
Este é mais um passo dos realizadores no trilho da indigência criativa. Surpreendentemente, Speed Racer não foi o mega-sucesso que prometia arrasar com as bilheteiras norte-americanas. Será que o público já se apercebeu que a dupla está a ficar sem ideias?
Classificação: 0/5
Stop-Loss, de Kimberly Peirce. Nove anos depois, a realizadora de Boys Don't Cry (filme que valeu a Hillary Swank o primeiro Óscar da sua carreira) regressa às longas-metragens, para para nos oferecer um drama de guerra. Inspirada pela incursão do seu irmão mais novo no território militar, Peirce narra aqui a história do soldado Brandon King que, após regressar das suas funções no Iraque, se vê forçado a lá voltar. Tudo por causa de uma cláusula pouco conhecida entre os combatentes (a Stop-Loss do título) que obriga a essa remobilização. Este acontecimento inesperado fará com que King avalie o poder do amor, da honra e da amizade. Mais uma valente crítica à estratégia militar norte-americana e aos efeitos devastadores que esta provoca nos seus 'filhos' ? Esperemos que sim!